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Dois filmes recentes: Martin Eden , de Pietro Marcello, e A verdade , de Hirokazu Kore-eda. Ambos giram em torno de personagens que, de uma maneira ou de outra, trocaram a vida pela arte. Um escritor e uma actriz. Tudo é sacrificado pelo desejo de alcançar uma suposta perfeição artística. Mas, tal como no Fausto , e com a dose certa de moralismo, o preço do sucesso é sempre demasiado elevado: loucura, solidão, autodestruição. No extremo oposto, está o «doutor», personagem do conto O visitante da noite , de B. Traven. Um escritor que vive isolado na floresta tropical e que escreve para um único leitor: ele próprio. Todo o prazer da criação está contido unicamente no acto da escrita: «Sempre que concluía um livro, relia-o, corrigia-o, introduzia-lhe as alterações que julgava essenciais para o tornar perfeito, o mais próximo possível da minha ideia de perfeição, e, feito isto, sentia-me feliz, plenamente preenchido. Logo a seguir destruía o livro...» Escrevi que o «doutor» está no «extr

Começar tudo de novo

- Vejamos então. Muitas vezes penso como seriam diferentes a nossa arte, os nossos escritos, as nossas técnicas, as nossas arquitecturas, tudo aquilo que realizámos se, em 1650, por exemplo, tudo o que até então fosse obra do homem tivesse sido destruído, tão meticulosamente destruído que nenhum ser humano pudesse lembrar-se de como era uma roda de carroça, nem se a Vénus de Milo fora uma pintura, um poema ou um nome inscrito na quilha de um navio, ou se a democracia e monarquia se referiam a alimentos ou eram sinos de igreja. Pela minha parte, estou convencido de que o mundo seria hoje, provavelmente, um lugar cem vezes mais agradável para viver se humanidade, de tempos a tempos, tivesse a oportunidade de desfazer-se de toda a história e de toda a tradição e voltasse a começar do zero, sem ideias gastas, lugares-comuns e opiniões que criam obstáculos ao nascimento de um mundo inteiramente novo. B. Traven, O visitante da noite e outros contos . Tradução de Manuela Gomes.