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Culpados

Esta semana, voltámos a ver Ladrões de Bicicletas. A insuportável via crucis do homem e do filho. A terrível cena final, de novo. O miúdo, em lágrimas, testemunha da impiedosa humilhação do pai. O pai derrotado e humilhado diante do filho. Mas, desta vez, a ausência de ricos, patrões, exploradores, revelou-se-me ainda mais óbvia e perturbante. Tudo se passa entre os pobres e miseráveis. O indigente que rouba o desvalido. O desvalido que trama o desgraçado. O operário que tenta passar à frente na fila do eléctrico. O velho da sopa dos pobres que mente ao homem desesperado e este que arrasta o velho para a rua. As trapaças no mercado de bicicletas em segunda mão. Etcétera, etcétera. O que fazer quando os culpados estão fora de campo? É mais simples culpar o vizinho da frente, o passageiro do lado, o tipo da caixa do supermercado. Também nisto o filme é tremendamente actual.

Impedem-me de dormir

Sabiam que vivo obcecado por dois monstros? Eles tornam-me a vida praticamente impossível: são eles Charlie Chaplin e René Clair… À medida que avançávamos na construção do nosso argumento, acontecia-nos por vezes ficarmos bastante satisfeitos com o nosso trabalho, com as nossas descobertas, mas não por muito tempo! No dia seguinte, coçava a cabeça e dizia: o Charlie já pensou nisto, há vinte e cinco anos! Ou então: René Clair fez isto naquele filme!... Depois deles, o cinema tornou-se quase impossível!... Juro-vos que me complicam a vida e impedem-me de dormir. Vittorio De Sica, a propósito de O Milagre de Milão , citado por André Bazin (folha de sala da Medeia).

Ladrões de bicicletas

Em Lisboa, o responsável da empresa municipal que gere a frota de bicicletas partilháveis queixa-se de uma onda de assaltos na cidade. Andam a roubar as bicicletas.  «De qualquer forma, a grande maioria das bicicletas foi recuperada; como o sistema tem GPS, conseguimos fazer a sua recuperação.» Numa palavra, as bicicletas podem ser localizadas em «tempo real», de forma rápida, higiénica e sem drama neo-realista. Fim do filme.