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Resistência

Certa vez, quando lhe perguntaram se, enquanto artista de esquerda, tinha nostalgia dos tempos brechtianos ou da literatura «engagée» à francesa, Pasolini respondeu nos seguintes termos: «De modo nenhum. Tenho simplesmente a nostalgia da gente pobre e verdadeira, que lutava para derrubar o patrão, mas sem querer com isso tomar o seu lugar.» Um modo anarquista, dir-se-ia, de separar a resistência política de uma simples organização de partido. Georges Didi-Huberman, Sobrevivência dos Pirilampos . Tradução Rui Pires Cabral.

O que oferece resistência

Sábado à noite: Rebels of the Neon God , de Tsai Ming-Liang. Domingo de manhã: Dear Emma, Sweet Böbe , de István Szabó. Ambos no Batalha. Ao fim da tarde, e depois de limpar a casa, umas páginas do Diário  de Gombrowicz. Um comentário do escritor aos dois filmes, que ele não viu: «A realidade é o que oferece resistência, o que dói. E um homem real é aquele que sente dor. (...) Remova-se a dor e o mundo tornar-se-á indiferente…» ( Diário , Volume II.)

A vida é uma festa, vamos vivê-la!

Fellini Oito e Meio , de novo. Aquela nave espacial desconchavada a apontar para o céu, espécie de arca de noé para «salvar a humanidade da bomba atómica». O mago com a varinha mágica, que muda o rumo dos acontecimentos, segundo os caprichos do sonho e da imaginação. O realizador que não consegue filmar, não porque lhe faltem ideias, mas porque resiste a fazer um filme ditado por outros. O cidadão que recusa a corda que lhe atam ao pé e que o impede de andar entre as nuvens.  «A vida é uma festa» e o cineasta quer vivê-la com todos e em liberdade.  Desta vez, não consegui ver o filme sem pensar na vida depois de 10 de Março.

Punhos cerrados

Ligar o rádio de manhã para ouvir o noticiário começa a ser uma tortura. As palavras e os soundbites mais rançosos e poirentos esbarram nas paredes e explodem-nos na cara. O que fazer? O que fazer? Transformar os piores receios, angústias e fantasmas, em punhos cerrados. É o que há a fazer.

Da nuvem à resistência

A projecção dos filmes de Danièle Huillet e Jean-Marie Straub integral e por ordem cronológica é um acontecimento notável.  No entanto, passada a primeira euforia fico a pensar se não seria necessário um gesto mais incisivo para os homenagear. Uma mulher que percebe o que são as bruxas:  Quando damos de comer aos gatos em Roma, compreendemos o que se passava com as bruxas; muitas vezes tinha a impressão que era a minha pele que estava em jogo. Aí, dei-me conta que havia mulheres que, porque observavam as estrelas à noite, porque apanhavam ervas de noite, porque os gatos as seguiam... foram queimadas. É isto as bruxas! E que explica: O que nos interessa, são as pessoas que dizem os textos de Pavese, o que elas fazem na vida, a maneira como dizem os textos, os problemas que têm com aquilo que dizem, e por isso, bruscamente, aquilo que eles dizem já não é de Pavese mas sim do sujeito que o diz e que, no começo, nem sabia quem era Pavese. O único interesse do texto ou daquilo a q...

Sublinhados meus

Os angustiados, os asfixiados, os exaustos, os abatidos, os sobrecarregados, os saturados, os queimados, os esgotados, os electrocutados. São eles e elas quem podem (podemos) perturbar a posição dominante do desejo hoje: o sempre-mais. Mas interromper o quê? Como esquivar-se ao imperativo do rendimento? Como escapar à figura do “maximizador”. É preciso um novo ataque à “economia libidinal” do neoliberalismo, à sua organização do desejo: um certo apagão das nossas energias desejantes. Esta “luta” não é necessariamente épica, heróica e colectiva. Não é necessário desvalorizar a deserção progressiva e os apagões pessoais. David Le Breton investigou, por exemplo, modos subtis de desacato ao imperativo do “seja você mesmo”, de estar permanentemente conectado e disponível, de estar sempre à altura. Fala do “silêncio” e do “caminhar”. Ele propõe que estes possam ser tomados como formas políticas de resistência. Como fugas activas do ruído da conexão permanente, como modos de voltar a tomar co...