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Bisogna trovare le parole giuste: le parole sono importanti!

Leio no jornal que Ana Gomes foi ilibada pelo Tribunal da Relação do Porto no caso em que chamou «escroque» ao empresário Mário Ferreira. Os excertos que o jornal cita do acórdão , redigido pelo juiz João Pedro Pereira Cardoso, são um tesouro da linguagem: No significado mais ecléctico do vocábulo ‘escroque’, acrescentar o sinónimo ‘desonesto’ ou ‘vigarista’ a um ‘criminoso fiscal’ não passa de uma redundância pejorativa intensificada. Não existe criminoso fiscal que não seja desonesto, pelo que a utilização interligada dos vocábulos não passa de uma crítica mais severa ou exagerada. [Ana Gomes considera que Mário Ferreira], na sua actividade empresarial, exibe um padrão de comportamento trapaceiro, de mentiras e embustes quanto ao cumprimento das suas obrigações fiscais — um comportamento, em suma, de escroque, vigarista ou desonesto.

Proposta de alteração dos vínculos narrativos

Dada a incontestável importância dos intestinos na nossa vida e até as suas conexões ao cérebro, talvez já fosse altura dos empresários trocarem a estafada metáfora do ADN. A minha proposta é que comecem a falar da merda que as empresas fazem — de preferência sem afectações (sem vocabulário em inglês, sem a palavra colaborador, etc., etc.).

Práticas diletantes em ambiente germânico

Consigo compreender a linguagem em ponto morto ou de férias , mas custa-me vê-la como uma caixa de ferramentas . Tenho uma noção bastante sólida da palavra “ferramentas” (martelo, alicate, serra, chave de fendas); imagino-a pesada ou afiada e não encontro essas propriedades na linguagem, nem sequer no alemão. A linguagem cotidiana descamba sempre — tem uma consistência gelatinosa tipo pega monstro. Por isso leio as investigações de Wittgenstein essencialmente como lances místicos. Transformar a linguagem em ferramenta, ou até mesmo arma, para desactivar a filosofia talvez seja possível mas só depois de levitar um bocadinho. Quanto?