Avançar para o conteúdo principal

Mensagens

A mostrar mensagens com a etiqueta Regina Guimarães

Lembro-me

Lembro-me , de Joe Brainard, é um livro genial. Se tivesse de o definir através de uma imagem, recorreria ao papel que a Regina Guimarães filmou no atelier de Ângelo de Sousa, pouco depois da morte do artista, em 2011. Estava fixado num painel, entre outros papéis, como um lembrete, e dizia: «Fazer as rectas ligeiramente curvas.»   

A mulher mais inteligente de Portugal

Fomos ver o filme de Samuel Barbosa sobre Paulo Rocha, A Távola de Rocha . A certa altura, Paulo Rocha refere-se a Regina Guimarães como «a mulher mais inteligente de Portugal». No caminho para casa, ela fez-me notar que Rocha diz «a mulher» e não «a pessoa».  O meu surdo astigmatismo está a agravar-se.

O espelho

Um homem medonho entra e olha-se ao espelho. «Porque é que o senhor se olha ao espelho já que só com desprazer se pode lá ver?» O homem medonho responde-me: «Senhor, segundo os imortais princípios de 89, todos os homens são iguais em direitos, logo tenho o direito de me mirar. Com prazer ou desprazer, isso só à minha consciência diz respeito.» Em nome do bom senso, eu estava sem dúvida certo. Mas do ponto de vista da lei, ele não deixava de ter razão. Charles Baudelaire, Embriagai-vos | Antologia de poemas em prosa de autores franceses. Tradução de Regina Guimarães. Em co-edição (FLOP) até 11 de Outubro. Para ser co-editor é só seguir o link.

Pois bem, seja!

O homem e eu, enclausurados dentro dos limites da nossa inteligência como amiúde um lago dentro de uma cintura de ilhas de coral, em lugar de unirmos as nossas forças respectivas para nos defendermos contra o acaso e o infortúnio, afastamo-nos, estremecendo de ódio, optando por duas estradas opostas, como se nos tivéssemos ferido reciprocamente com a ponta de uma adaga! Dir-se-ia que cada um compreende o desprezo que inspira ao outro: empurrados pelo móbil de uma dignidade relativa, esforçamo-nos por não induzir em erro o nosso adversário – cada um fica do seu lado e não ignora que a paz proclamada seria impossível de manter. Pois bem, seja!  Isidore Ducasse, Cantos de Maldoror: Canto IV, Estrofe I .  Tradução de Regina Guimarães. Em breve, numa edição FLOP .

Folha em branco

Numa entrevista ao Jornal de Notícias , Regina Guimarães diz que não sente a angústia da folha em branco. Escreve em qualquer parte e em qualquer circunstância. Sou mais como Alfreda, do Espelho Mágico : passo os dias à espera de um milagre que nunca acontece.

Liquidação

E ainda a propósito do sentido das palavras : Somos feitos de palavras. São o nosso limite e ilimite. Ético. Estético. Político. Com elas nos exprimimos, atrás delas nos escondemos. São mentira reveladora, verdade tímida, meia verdade. Carregam a nossa impotência e embriagam-nos com o seu poder. Apesar da omnipresença das imagens, as palavras passaram a ser o suporte mais forte da pós-verdade. A par das fake news , que inundam a cena política, o recurso ao fake knowledge , amiúde assente no name dropping , tem vindo a vulgarizar-se a ponto de haver quem defenda, com falsa candura, que tudo é o que é e o seu contrário. Só assim se explica que proibir pretensamente signifique permitir que alguém se coíba... (...) Repare-se, por exemplo, na utilização pelos programadores dos Teatros Municipais do termo “ocupar” (1000 razões de ocupar o teatro) que, remetendo para factos ocorridos num passado assaz recente – a saber: a luta contra a privatização da gestão do Rivoli –, aposta no seu t

Formação Académica

Mauri, diminutivo de Maurício, frequentou o curso da prestigiosa Centrale sem se distinguir em nenhum domínio. Não aprendeu nada e foi nomeado engenheiro. Quando saiu da escola entrou para o bordel. Quando saiu do bordel, quis voltar a entrar.  Princesa Sapho, O Tutu . Tradução de Regina Guimarães.

O lápis de barba azul

ora o livro ora o lápis ora a libação a orelha dorme debaixo das almofadas feitas para asfixiar os gritos do futuro ora o livro ora a oração cada passo significa um traço rasurado noutro mapa mais ingénuo mas o risco da correcção reside precisamente na chamada da atenção para o que já esteve escrito para a escrita do que lá estava. Regina Guimarães, Caderno dos atalhos e dos becos , p. 73.