Avançar para o conteúdo principal

Mensagens

A mostrar mensagens de julho, 2018

A propósito de Moloch

Tudo isto, para nos dizer

Tudo isto, para nos dizer, como ninguém o dissera antes, que Deus, o deus da nossa alma e da nossa cultura milenarmente cristãs, estava morto e, com ele, as crenças, os valores, as ilusões, a moral, a política de que era a suprema e materna sigla. Mas o que [Fernando] Pessoa compreendeu, antecipando-se a deduções futuras e óbvias, foi que essa morte de Deus era, ao mesmo tempo, como ensinava entre equívocos, Frederico Nietzsche, morte do homem . Eduardo Lourenço, Fernando, Rei da nossa Baviera.

Em orientes para lá do oriente

Por último, há ainda um curiosíssimo fio de semelhança entre O Naufrágio , de Claude-Joseph Vernet, e A Perda do Hiate Nada , um dos contos incompletos de Fernando Pessoa. Neste conto, Pessoa imagina a história do capitão Ayakwamm, o «Comandante Desconhecido», e o naufrágio do iate Nada , numa zona entre a realidade e o sonho, a razão e a loucura, em «orientes para lá do oriente». Na secção IV do conto, justamente intitulada Paisagens , pode ler-se esta passagem: Não vi nunca pinturas que tanto me impressionassem. Davam a vontade imperiosa de visitar os lugares que [espaço deixado em branco por Pessoa] . Via-se que quem as pintara, o fizera com um desejo supernormal de se encontrar nesses lugares — como um grande pintor exilado pintando a sua pátria. O que de certo sei é que nunca me foi dado ver gravura, pintura, fotografia — quadro ou [espaço deixado em branco por Pessoa] de qualquer espécie que de tão doloroso desejo me enchesse. Eram, em regiões de rochedos altíssimos, formando
Ed Ruscha, The Back of Hollywood , 1968.

To a Green God

Num dos monólogos de Charles Cros , O Dia Verde , o protagonista, Sr. Galipaux, é um empregado de escritório parisiense, que decide acompanhar um casal amigo num passeio ao campo. É sábado, dia de folga, e o apelo da natureza é irresistível. “Oh! o ar, a verdura, correr, pular, dançar, cantar, lalai, lalai, um fato leve, o meu panamá e ala que se faz tarde!” Pouco a pouco, porém, o suave sonho de uma digressão pelos bosques, transforma-se numa espécie de pesadelo verde. Não é apenas a natureza que é verde, tudo à sua volta parece plasmado nessa cor. As pessoas estão vestidas de verde, há um papagaio verde, a comida é verde, as mesas e as cadeiras da casa de pasto são verdes, o absinto é verde, as casas têm portadas verdes, tudo, de uma maneira ou de outra, e em graus diferentes, é verdíssimo. Num só dia, o personagem percorre todos os círculos do inferno verde, acabando na cama com icterícia, "verde como puré de ervilhas". Em O Raio Verde , de Eric Rohmer, inspirado no l