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Consolidação do inferno

É bastante irónico que nos aproximemos tanto e tão depressa de uma versão rasca do inferno feita de calor e fogos. A realidade assemelha-se às imagens infantis dos folhetos que as testemunhas de Jeová nos oferecem na rua como se fossem rebuçados. Talvez a ideia de Cioran de um Deus trocista — um Criador que se risse da Criação — se tenha materializado.

O tipo de homem não só inútil e depravado, mas ao mesmo tempo inapto.

Apesar do título e do narrador explicar, ainda antes de começar a acção, que o herói do livro é Aleksei Fiódorovitch Karamázov, as descrições e as entradas em cenas de Fiódor Pávlovitch (pai dos três irmãos Karamázov) são prodigiosas de bufonaria. Só para dar três exemplos. Logo na primeira página do primeiro capítulo, um retrato e conceito muito bem definidos (nada a mais, nada em falta, excelente ritmo): Agora digo apenas que este “proprietário rural” (como lhe chamavam aqui, embora não tenha vivido na sua propriedade durante quase toda a vida) era um tipo estranho, desses que no entanto se encontram com bastante frequência, ou seja, o tipo de homem não só inútil e depravado, mas ao mesmo tempo inapto — desses inaptos que, aliás, sabem tratar muitíssimo bem dos seus interesses mas, pelos vistos, só disso. (Página 17) Mais à frente, esta conversa de Fiódor Pávlovitch com o filho Aleksei é de uma perfeição extrema e perturbadora; por preguiça transcrevo apenas um pedaço: (...)