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Er ist das Einfache / Das schwer zu machen ist

A conferência de Bernard Eisenschitz foi interessante e inspiradora. A ideia de fazer um apanhado de pequenas histórias ( anedotas , no sentido das de Kleist) sobre os filmes de Danièle Huillet e Jean-Marie Straub é óptima porque consegue projectar na obra que os dois construíram (filmes simples, difíceis de fazer) um segundo vento que dá prazer e faz sorrir — e tudo que contraria a idolatria no amor é revigorante.  A própria conferência deu origem a duas anedotas. Os problemas na passagem de excertos de som e imagens (parecia que estávamos numa colectividade sem equipamentos) foi, obviamente, a piscadela de olho habitual a Tati (já tinha apanhado o barulhinho das sapatilhas do fotógrafo sobre o chão de mármore do átrio). A outra é de ordem textual: na sua intervenção, Bernard Eisenschitz utilizou várias vezes a palavra comunista e até citou o elogio de Brecht (tantas vezes usado por Straub) que explica que o comunismo é a coisa mais simples que há e a mais difícil de executar ( Er is

— Alors, un petit supplement?

A exposição dedicada ao trabalho de Danièle Huillet e Jean-Marie Straub parece uma actividade cultural de centro comercial. Puseram umas folhas verdes nos projectores de luz e todo o espaço ficou verde como uma alface. Não é assim que a terra deve brilhar — isto deixa ficar mal até o louco do Hölderlin. Há uns ecrãs espalhados pelas paredes verdes onde se podem ver excertos de alguns filmes da retrospectiva (nem sempre com legendas em português que, diga-se, não são grande coisa). E mais nada, nenhuma ligação aos escritores que eles leram e aos textos que filmaram. Nenhuma ligação aos cineastas e filmes que os marcaram e com os quais se relacionam. Nenhuma ligação às pessoas que filmavam com eles.  Nem encontros, nem diálogos, só aquela cor verde que alastra. Esta exposição podia chamar-se — Alors, un petit supplement ?

Observações avulsas sobre a boavista #17

Descer a avenida pelo lado direito. Atravessar a ponte sobre a via de cintura interna quase até ao fim. Parar um tempo por cima dos carros e camiões que passam velozes em direcção à Arrábida. Abarcar a estrada, os veículos, os painéis e a vegetação que cresce a monte — no mesmo plano. Esqueçam Serralves, o melhor sítio na Boavista para perceber a arte contemporânea é aqui.

Com a agilidade de um verdadeiro caçador diante de sua presa

Já desisti de Serralves há alguns anos. Basta-me trabalhar em Nevogilde para exceder a quota de tias e sobrinhos que consigo suportar. Prefiro a parte oriental da cidade com as suas misturas e pobreza, prefiro as ruas com algum lixo ao museu imaculado. A inauguração da Casa do Cinema Manoel de Oliveira é igual à Sociedade das Nações Unidas descrita por Albert Cohen, tudo gente muito bem e adequada à função. O único tipo que se salva na mole é o Luís Miguel Cintra. Agradeço a Adriano Miranda esta fotografia magnífica (guardar). Com ar de conspirador ou caçador, Luís Miguel Cintra parece compadre dos Valorosos. Gostava que fizesse um discurso verdadeiro, verdadeiro mesmo, daqueles que fazem tremer os ossos, deitam pedras abaixo e afugentam os espíritos delicados. Ele está-se nas tintas. Também está bem assim.

A natureza humana

Já afixaram os cartazes de mais uma edição do BioBlitz. Descobrir a natureza do parque é uma ideia gira, mas este ano Serralves podia ter feito isto de forma mais arrojada: mantinha a vertente científica e empurrava a observação para o campo da antropologia. — Por exemplo, convidava aquela personagem do Herman José com chapéu de explorador que se escondia atrás das palmeiras e, em vez da fauna e flora do parque, oferecia aos participantes uma perspectiva do conselho de administração de Serralves. Parece que tem espécies raros, delicados e ainda muito desconhecidos.