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O trajecto da paixão desenganada

MARGUERITE DURAS: Sabe, o seu filme, é assim que o vejo. Vejo-o em Paris, em Paris fora do tempo, imprevisível, inverosímil, como uma cidade que foi admirável mas agora está em processo de destruição e, no interior dessa destruição, estão estas duas mulheres errantes que não se sabe lá muito bem de onde nem de que comunidade vêm — prisões, asilos psiquiátricos, bairros sociais, de certas famílias francesas, da aristocracia Muette-Passy. Estas mulheres desafiam qualquer noção de classe e são largadas na destruição de Paris, já não podem parar, elas circulam como os automóveis, como as notícias, como Nova Iorque na Europa, como o cinema, como a eternidade. Elas são perseguidas enquanto circulam, por um poder que não sabemos se é o da polícia ou o da paixão. Bulle ama um homem e não morre disso, Pascale ama o karaté: nunca se viu mulheres assim ao ar livre, sem qualquer compromisso, sem identidade, um filme que é, como um rio que corre, admirável, admirável.  JACQUES RIVETE: Isso in...
Quando percebi que partilhavam o título, fiz uma pesquisa, mas só encontrei uma relação ténue entre As Filhas do Fogo de Gerárd de Nerval e as de Pedro Costa. As ligações a Rivette são mais evidentes; por isso e porque gosto de me meter por caminhos secundários, resgatei o livro do armazém — sabe-se lá onde vamos dar. Por sorte, é um daqueles livrinhos bonitos da estampa com papel azul e capa negra (de março de 1997), traduzido pela magnânima-e-sempre-viva Luiza Neto Jorge. Custou três euros e vinte cêntimos, deve ser mais ou menos o equivalente a café e umas águas na esplanada.

LP

As 450 páginas de Democracia , de Alexandre Andrade; as 4h12m d' O Amor Louco , de Jacques Rivette — para mim, são a mesma coisa. Parto para os dois com o mesmo entusiasmo pela longa duração.
Jacques Rivette: No cinema, o importante é o momento em que já não há autor do filme, já não há actores, já não há sequer história, não há assunto, nada senão o que o filme diz.

Selfie VIII

Consulta de rotina. A médica pergunta como me sinto. Respondo com frases banais, omito o diagnóstico mais justo: preciso de ver um filme de Rivette. (Não, isso não chega, preciso de estar dentro de um filme de Rivette.)

Ir de barco

Só ontem à noite, talvez porque Betty e Rita falavam em francês no canal arte, é que me apercebi da ligação de Mulholland Drive (por atração, contraste e devaneio) a Céline et Julie vont en bateau.

Mas, na manhã seguinte

(Depois dos espargos, do folar de azeitonas, do salmão fumado e do vinho do Douro — fórmula petisco improvisado — não me apeteceu trabalhar. Sentei-me na varanda a aproveitar o sol e a ler mais umas páginas d’ O Leão de Belfort e agora já sei demasiado, pelo que vai ser difícil defender a crítica a uma obra baseada apenas num parágrafo. Vou tentar não fugir do risco. Dentro do possível.) A questão geográfica. No excerto referido é apenas o parêntesis (ou seja, a Paris), a Rue Lemercier e o bairro de Batignolles, mas isso basta para prevermos (o plural define os leitores habituais do Alexandre Andrade) deambulações várias pela cidade, viagens de metro e autocarro. E, num salto completamente bem executado, a geografia mistura-se com a arquitectura, e entramos nas casas quase sempre pequenas e alugadas, nos quartos, nos corredores e escadas. É uma espécie de guia, mas ao contrário, em que o objectivo principal (a esperança, diria até) é desviar-nos do caminho certo. Ou, pelo menos, enc...

Serviço ocasional

Ainda não eram oito horas. Um par de sapatos verdes, de camurça, estava pousado no chão junto à paragem do autocarro. Sapatos de mulher, com pala, usados mas em bom estado. Parece um sinal de Rivette. Espero, com grande entusiasmo, os próximos lances.