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Fim do mundo

É a segunda vez em poucos anos que, diante de um putativo fim do mundo, o primeiro impulso de uma parte da população é açambarcar o papel higiénico dos supermercados. Ao que parece, é o único gesto trágico de que somos capazes. Quando se adivinha a catástrofe, fechamo-nos na casa de banho e limpamos desesperadamente o traseiro.

Papel higiénico

Há três dias que uma onda de pânico varre, sem parar, os supermercados. No nosso bairro, não há vegetais, carne, enlatados e papel higiénico. De papel higiénico, não resta a sombra de uma embalagem. As prateleiras vazias conduzem-me de novo, e por caprichosos caminhos, a Artaud. Onde cheira a merda cheira ao ser. O homem poderia muito bem não cagar, não abrir a bolsa anal, mas ele escolheu cagar tal como escolheria viver em vez de aceitar viver morto. Pois para não fazer caca precisaria de aceitar não ser, mas ele não quis optar por perder o ser, ou seja, morrer vivo. (...) Antonin Artaud, Para acabar de vez com o juízo de Deus e outros textos finais (1946-1948) . Tradução de Pedro Eiras.