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É nos anos oitenta que começa o Godard de que mais gosto (tem a ver com Anne-Marie Miéville). Prénom: Carmen , de 1983, é já uma espécie de música, uma música do pensamento? Compreende-se com o corpo. — Oui, monsieur Jeannot, il faut fermer les yeux au lieu de les ouvrir

Selfie XIV

Os protocolos oficiais aborrecem-me, mas gosto de criar pequenos protocolos pessoais que passam despercebidos. Por isso e apesar de não estar frio, vou levar o meu cachecol vermelho para a sessão de Kommunisten . É um gesto mais ou menos entre o cepticismo de Godard e John Wayne num filme do Ford. Cada um segue os modelos que pode.

Vai no batalha

É evidente que estou aqui a título de penetra. Preparei uma aula sobre o que gosto (ou gostava?) mais de fazer: rever filmes. Falo um pouco de Bresson e Godard para dar consistência, mas a ideia é explorar as malandrices e perícia de Hitchcock em três filmes: Janela Indiscreta , Os Pássaros e o maravilhoso Perigo na Noite .  Não parece, mas é — há-de ser — uma sessão para desanuviar (mais não seja porque não percebo nada de questões teóricas de cinema). E desviar, também, se conseguir.  Segui o método de Hitchcock e tenho tudo tão delineado que podia contratar alguém para ir dar a aula com menos irregularidades — uma loira bem penteada, de tailleur cinzento e olhar perdido é que era. O curso é barato, mas aviso já que a admissão é difícil que se farta (muito pior do que o exame de condução); convém ir à prova cheio de cinefilia.

Ajuda a viver

Pierre Assouline: Foi a leitura do Cioran que o acalmou?  Jean-Luc Godard: Ela corresponde à minha queda para o aforismo, a síntese, os provérbios. Este gosto talvez me venha das fórmulas científicas. O aforismo resume qualquer coisa mas permite outros desenvolvimentos. Como um nó: pode ser feito em vários sentidos, não impede que quando é feito, o sapato fique preso. Não é um pensamento, mas um traço do pensamento. E Cioran, leio-o sempre em todos os sentidos. É muito bem escrito. Com ele, o espírito transforma a matéria. Cioran dá-me uma matéria que alimenta o espírito.  PA: Mas o que o atrai tanto nos aforismos? JLG: O seu lado de átrio de estação central. Entramos, saímos, voltamos. Se encontrarmos um bom pensamento, podemos permanecer nele muito tempo. Depois levamo-lo connosco. Não é preciso ler tudo. Pessoa, de quem também gosto muito, é demasiado negro enquanto Cioran ajuda a viver. É uma forma de pensamento diferente do pensamento com começo, meio e fim. Não conta uma hist

Influenciadores do século XX

(Godard — magnífico estilo Luiz Pacheco —  em diferido .)

Comment c'est

Tantas recomendações de leitura, mas só me apetece ler a realidade. Como se fosse um filme de Godard, o velho. Cortar, colar. E um cão.
“ Nada vincula tanto o ser humano à linguagem quanto seu nome. ” Podemos abrir um bocado as palavras de Walter Benjamin, aplicar o princípio não só aos seres humanos. Faz todo o sentido, por exemplo, que a Holanda seja tratada por Países Baixos. — O bon Dieu! Les langues des hommes sont pleines de révélations.

Trabalhar em casa

Anch’io avevo creduto per un momento che il cinema autorizzasse Orfeo a voltarsi senza far morire Euridice. Mi sono sbagliato. Orfeo dovrà pagare.
Só tenho jeito para coisas pequenas. Mas às vezes gosto de imaginar edifícios enormes, cheios de pormenores — projectos para abandonar a meio. Por exemplo: um curso de literatura através dos filmes de Godard, à deriva, com pistas falsas e becos sem saída. Podia começar aqui: La poésie, c'est qui perd gagne.

X + 3 = 1

Nota-se nos filmes e nas entrevistas, Godard — e isso quer dizer cada vez mais “o pensamento Godard” — assemelha-se a um monte de silvas, dessas que crescem por aí nos descampados, cheias de espinhos, cobertas de pó. As amoras estão quase todas fora do nosso alcance. Para as apanhar, arranhamos as pernas, os braços e as mãos.

Pensar com as mãos (take 2)

Jerónimo de Sousa é o político que melhor se relaciona com as palavras. Usa-as para exprimir pensamentos e não para exercícios de comunicação. Quando diz:  não sabia fazer uma lei, mas sabia o que era fazer uma greve, ser despedido sem justa causa por motivos político-ideológicos, vir do Sindicato dos Metalúrgicos e da Comissão de Trabalhadores da empresa e falar de liberdade sindical e dos direitos, do valor da Contratação Colectiva e do combate à discriminação salarial das mulheres. Percebemos que os seus pensamentos correspondem a uma prática. Se nos concentramos bastante, conseguimos ver o passo da história. E aquilo a que Godard chama pensar com as mãos?

Mundo interior

Como funciona o pensamento? Que som tem a nossa «voz interior»? Que cor têm as imagens que passam dentro da nossa cabeça? E passam a que velocidade? O pensamento é o nosso cinema interior. Terno e terrível, belo e assustador, apaixonado e assassino. Em todo o caso, um cinema que não pertence ao mundo, impossível de resistir fora da cabeça. O Livro de Imagem é o colossal combate de Godard contra essa impossibilidade. Durante uma hora e meia, o realizador procura mostrar a mecânica do seu pensamento. A tela transforma-se no espelho de tudo o que ocorre no interior da sua cabeça: palavras e imagens. Apenas isto. E isto , que em literatura não é novidade, é muito mais do que qualquer outra coisa que já tenha sido tentada em cinema.