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Luta de classes

Nas ruas, os remediados arrancam os olhos aos pobres. Os pobres quebram as pernas aos miseráveis. Os miseráveis atiram pedras aos moribundos. Nos estúdios de televisão, os comentadores comentam. Nos camarotes, os ricos assistem a tudo, em roupa de gala, e batem palmas. Palminhas elegantes e discretas. Um tilintar simpático de pedras preciosas.

Mise-en-scène

Os tacões são importantes, mas o que conta mesmo para ganhar uma discussão com o patronato em que nos tentam encostar à parede com ardis sonsos, é ter lido Michael Kohlhaas, Antígona, e outros livros do género combativo; ter aprendido com Straub e Huillet uma entoação de voz vigorosa e movimentos do corpo leves e decididos. E já agora, também devo a Cioran a escolha das palavras mais destemidas e violentas. No fundo, são eles o meu sindicato.

Condições materiais da luta de classes

Foi ao ler o livro do Ramón Gómez de la Serna sobre o tango que me dei conta da importância transversal dos tacões nos comportamentos sociais. Por experiência própria já me tinha apercebido da necessidade de usar tacões (bastam sete centímetros) nos confrontos laborais — infelizmente nem os sindicatos nem os partidos de esquerda informam as trabalhadoras desta vantagem material que nos permite olhar de cima (e com algum desdém) o patronato. No fundo, trata-se de uma prática cultural — de fácil alcance, diga-se — de hostilidade ao capital e à sua acumulação.