Noutros tempos teria ido à Cinemateca ver Retrato de uma rapariga do fim dos anos 60 em Bruxelas , mas agora já não me apetece viajar mais que 20 quilómetros e acabei por ver o filme no pequeno ecrã do iPad . A experiência até nem é má, quer dizer, esta versão reduzida e um bocado estragada combina com a história de evasão de Michèle, partilham o mesmo carácter improvisado e precário — quase que podemos dizer que são feitos da mesma matéria. Logo no início, e depois de uns planos hitchcockianos, Michèle senta-se num café, acende um cigarro e começa a rabiscar uma justificação para faltar às aulas. Escreve em nome do pai (aquele homem que a levou até à paragem de autocarro e de quem ela fala muito ao longo do filme). Começa por explicar que a filha está gripada. Corrige: teve que ir a um funeral, a avó morreu. Afinal quem morreu foi o tio. Não, foi a tia que morreu a seguir à morte do tio. Segue-se a morte do pai e por fim a morte da própria Michèle: Veuillez excuser ma fille Michèle, ...
de Cristina Fernandes e Rui Manuel Amaral