Nunca li nem ouvi falar da frase de Marx Diga-me o que comes e eu te direi quem és na minha juventude, mas isso era óbvio para mim, eu via o que os clientes da minha mãe compravam na mercearia de acordo com o bolso deles. Eu sabia muito bem em que dia o auxílio governamental «caía». Dizer que «eu sabia muito bem» não é muito preciso, era esse mundo que me moldava, não era preciso ouvir para saber. As palavras ligadas ao trabalho, à contratação e à demissão, «fazer cortes», etc., entraram no meu vocabulário naturalmente. Eu as escutava no café, ao lado da mercearia. Annie Ernaux, A escrita como faca e outros textos , tradução de Mariana Delfini. Citado por Kelvin Falcão Klein.
de Cristina Fernandes e Rui Manuel Amaral