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Dois planos

Há um filme que se desenrola à porta do Batalha. Não faz parte de nenhum dos ciclos arrojados do Centro de Cinema. É apenas uma sequência de dois planos opostos. No primeiro plano, a câmara está parada junto à fonte, virada para o Batalha e para a Igreja de Santo Ildefonso. Fim da tarde. Ouve-se a música de baile do Orfeão do Porto, o som da fonte e uma ou outra frase dos turistas que passam com sacos, a comer, a olhar para os telemóveis, a tirar fotografias. É um plano aberto e muito longo.  Corte.  No outro plano já é noite, o público sai de uma sessão e o segundo adro da igreja está cheio de gente parada em fila à espera de comida. Agora é a câmara que se move, é um travelling sem fim e inquieto. Como se fosse a Lorenza Mazzetti a filmar mais uma adaptação de Kafka, como se fosse uma coisa inconcebível.

Influenciadores do século XX

Lorenza Mazzetti é uma mulher maravilhosa, basta ouvi-la um pouco no documentário de Brighid Lowe e Henry K. Miller para ficar entusiasmada com o seu bom humor e inteligência.  Teve uma carreira curta no cinema mas, ainda assim, deixou obras importantes e também um método de trabalho que vale a pena seguir. Não só roubou a película e pôs na conta da Slade School of Fine Art a revelação de K ( Metamorphosis ), como não acatou a proibição de Max Brod para não adaptar as histórias de Franz Kafka. Era o que faltava — logo ela que compreendeu Kafka inteiramente pelos olhos.