Há um filme que se desenrola à porta do Batalha. Não faz parte de nenhum dos ciclos arrojados do Centro de Cinema. É apenas uma sequência de dois planos opostos. No primeiro plano, a câmara está parada junto à fonte, virada para o Batalha e para a Igreja de Santo Ildefonso. Fim da tarde. Ouve-se a música de baile do Orfeão do Porto, o som da fonte e uma ou outra frase dos turistas que passam com sacos, a comer, a olhar para os telemóveis, a tirar fotografias. É um plano aberto e muito longo. Corte. No outro plano já é noite, o público sai de uma sessão e o segundo adro da igreja está cheio de gente parada em fila à espera de comida. Agora é a câmara que se move, é um travelling sem fim e inquieto. Como se fosse a Lorenza Mazzetti a filmar mais uma adaptação de Kafka, como se fosse uma coisa inconcebível.
de Cristina Fernandes e Rui Manuel Amaral