O pai está de pé, ligeiramente inclinado para a frente. Camisa escura e gravata vermelha, sob um avental azul. Cabelo e bigode bem cuidados. Tem o ar seguro e determinado de um pequeno proprietário de restaurante. A mãe está sentada, de vestido bordô e avental branco. Há uma espécie de luz serena que emana das suas mãos enrubescidas e gastas pelo trabalho. Ou talvez seja apenas farinha e não luz. Do seu lado esquerdo, sobre uma mesa, o pão e o vinho, e logo atrás, bem arrumado num louceiro, um aquário com dois peixes. Todos os símbolos sagrados de um pacato lar cristão. Mãe e pai têm as mangas arregaçadas como se tivessem interrompido o trabalho apenas por alguns segundos para posar para o quadro. A filha é a única personagem que não olha directamente para o espectador. É uma rapariguinha elegante, de vestido vermelho e sapatos de tacão. Tem o olhar fixo em qualquer coisa que está fora do enquadramento. Parece menos interessada no assunto do quadro do que os outros personagens. Talv...
de Cristina Fernandes e Rui Manuel Amaral