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A mostrar mensagens com a etiqueta Sans Soleil

Il est mort le soleil

Todos me dizem que No Quarto de Vanda é muito duro. Como se essa constatação fosse uma muralha. Percebo que as circunstâncias (a droga, a pobreza, a destruição do bairro) são extremas, mas o filme tem também uma doçura, ora triste, ora cómica, que se sobrepõe a esse tom áspero. Talvez não se dê por ela da primeira vez, talvez seja necessário dar tempo ao tempo. A minha relação com o filme, confesso, é um bocado esquisita, quer dizer, não o respeito como um objecto íntegro (o que vai muito contra as minhas próprias regras). Às vezes vejo apenas uma cena, ouço uma conversa (os iogurtes de morango, o mês de maio,...) alguns sons (pássaros, a televisão ao longe, um cão,...), como se fosse um filme de fragmentos. Mas o enquadramento constante é o apogeu e o fim da adolescência, esses anos grandiosos em que temos um território que nos pertence por completo: o nosso quarto é o nosso domínio, onde fazemos e dizemos o que queremos e estamo-nos nas tintas para o resto do mundo. Podem ser ...

Como um plano de Sans Soleil

Barros Lima é uma rua tramada, obriga sempre a subir quer se comece numa ponta ou noutra.  Está situada num sítio pobre já perto da estação de campanhã e é bastante feia. Quando entronca na avenida Fernão Magalhães, ainda é pior. Há uns tempos tentaram dar um jeito ao cotovelo: fizeram uns muretes de pedra e plantaram seis cerejeiras de flor rosa dobrada atrás dos contentores do lixo. Não melhorou muito. Mas hoje de manhã reparei que as flores estão a rebentar e numa das varandas, uma mulher oriental fazia exercícios de alongamentos de braços.