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Dois continentes a rir

Alan Schneider, na sua autobiografia, Entrances , descreve a catástrofe que ocorreu quando, na primeira encenação em solo americano de À Espera de Godot , os espectadores acorreram à sala, esperando ver Bert Lahr numa comédia burlesca tradicional (expectativa esta encorajada pela respectiva campanha publicitária, que anunciou a obra como «uma peça que pôs dois continentes a rir a bandeiras despregadas»), e acabaram irritados e confusos ao perceberem que a experiência não se enquadrava nas suas expectativas. Marvin Carlson, Palco Assombrado . Tradução de Paulo Faria.

Mais um Godot

Em vários momentos do Manual de Leitura * dedicado à nova encenação de À Espera de Godot , de Gábor Tompa, se sugere que a pandemia lançou uma nova luz sobre as peças de Samuel Beckett. É como se a insegurança e a solidão dos confinamentos nos tivessem empurrado para dentro de uma peça viva de Beckett. Percebo e concordo. Mas a verdade é que as peças de Beckett, e em especial  Godot , vão mais longe e mais fundo, muito para além de uma catástrofe circunstancial. Funcionam da mesma maneira que os grandes textos religiosos, as peças dos gregos ou de Shakespeare: são o nosso espelho de quarto. Mostram-nos como somos, antes de nos vestirmos, lavarmos, pentearmos. Reflectem a nossa catástrofe permanente. O que Beckett traz para o palco é, mais uma vez, o reconhecimento de que o riso é um meio de salvação. A vida são dois dias, como em Godot , e rir do nosso destino absurdo é a maneira de o suportar, de adiar mais um pouco a morte. * Não me canso de admirar estes maravilhosos manuais do Teat