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A dúvida como mecanismo de condução

Estabelecer uma relação entre Alicia e Cioran é uma ideia estúpida, mas bastante divertida. Acabei por descobrir (na verdade foi Alicia que descobriu) que a família dos Western (da parte da mãe) era originária da Roménia e, durante um certo tempo, Alicia teve o devaneio de fugir para lá (como se a Roménia fosse a floresta por excelência) com o irmão para viver um amor fora da lei. Claro que isso vale vários pontos na minha investigação falhada, mais até do que o suicídio que é penalizado por ser demasiado óbvio. Depois há muitas coisas que Alicia diz ao psiquiatra e ao Puto — mas não tirei notas, por isso fico-me por esta citação, já d’ O Passageiro (página 319), que podia ser um recadinho amoroso para o filósofo. E já chega disto. «(...) A ideia está sempre a lutar contra a própria concretização. As ideias surgem dotadas de um cepticismo inato, não aparecem e levam tudo à frente. E estas dúvidas têm a sua origem no mesmo mundo que gerou a própria ideia. E isto é uma coisa a que, na

É uma pessoa perfeita

O Puto Talidomida mete no bolso qualquer personagem excêntrica de David Lynch. Na verdade ele nem é bem uma personagem, melhor seria chamar-lhe entidade, como Alicia diz já não sei em que página. Convém também não esquecer que se trata de uma criação da criação, quer dizer, Cormac McCarthy inventou Alice ( Alice and Bob , isso) que saca este rapaz defeituoso das profundezas do seu inconsciente puramente biológico .  O Puto domina em três campos: apresentação, discurso e artes cénicas. Num certo sentido podemos, talvez, considerá-lo um primo americano das personagens de Lewis Carroll — todas em simultâneo, encavalitadas e turbinadas. 1. Quanto à apresentação, basta citar algumas das descrições que a imagem cresce por si, bizarra e poderosa:  « O nome completo é Puto Talidomida. Não tem mãos. Só um par de barbatanas.» (...)  « Podemos falar do Puto?  Claro. Que se foda.  Toquei num ponto sensível.  Na verdade, não. Apeteceu-me ser ordinária, só isso.  Qual é a aparência dele? 

O rasto das afinidades

O que a topologia tem de fixe é que os problemas em que trabalhamos não têm que ver com outra coisa qualquer. A nossa esperança é a de que, ao resolvê-los, eles nos expliquem porque é que os formulámos, logo para começar. Procuramos o rasto das afinidades.  Stella Maris, de Cormac McCarthy. Tradução de Paulo Faria. Edição da Relógio d’ Água. Página 136.