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Avante, Michael Kohlhaas!

Trabalho numa pequena agência de comunicação que, entre outras coisas, vende aos clientes um programa de responsabilidade social. Para além da discriminação que praticou na aplicação dos programas de lay off e retoma progressiva de actividade*, essa empresa não pagou o subsídio de Natal porque não tem dinheiro mas (descobri hoje no site da segurança social directa) pagou a TSU correspondente à segurança social porque quer continuar a receber ajudas do Estado.  Cada trabalhador tem de se transformar num síndico de si mesmo (grego súndikos , - os , - on , o que ajuda num tribunal) e avançar para o futuro como um cavalo. * Durante o estado de excepção que vigorou em 2020 e se prolonga em 2021, a lei laboral recuou para território inóspito deixando aos empresários a responsabilidade ética dos seus actos — ai de nós!
O cavalo não sabe que é um cavalo. — E depois? Não se vê o que ganhou o homem por saber que é um homem.  Emil Cioran, Cadernos, junho de 1965.

O cavalo e a mosca

Um grupo de homens alemães chega ao sul da Bulgária para construir uma barragem. Essa é a única linha narrativa de “Western”, o resto são fragmentos que se desenrolam quase sem objectivo. No princípio só vemos a vegetação, as pedras, o rio, as montanhas. Depois vamos diferenciando cada um dos homens e aproximamo-nos de Meinhart, um tipo calado e, talvez por causa disso, um bocado antiquado. Surge uma aldeia e as pessoas que lá vivem. Conversam, bebem, estabelecem-se relações. Ouve-se uma mosca. Há uma festa. A determinada altura, uma das personagens diz que parece uma viagem no tempo, para o passado. E está certa — é uma viagem no tempo não só para aqueles homens mas para o próprio filme. É como se Valeska Grisebach conseguisse filmar sem criar imagens, regista o que se vai passando em redor sem o cristalizar. Os diálogos entre os alemães e os búlgaros são muito básicos, entendem poucas palavras uns dos outros, vão ensinando o som que corresponde a pau ou a rosto ou a liberdade

Mobilidade social

Percebemos o esvaziamento da palavra educação de manhã ao passar à porta do Colégio do Rosário (escola privada sempre com bons resultados nas listas do ministério). Nos dias de aulas, o passeio está ocupado por carros de grande cilindrada que deixam apenas uma nesga para continuarmos o nosso caminho. Neste caso, dizem os compêndios, era útil transformar-me em cavalo e fazer tremer o rei, todos os reis.