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No peito dos desafinados

A certa altura, Stefan Zweig diz que E.T.A. Hoffmann lhe lembra um instrumento musical partido. Quer dizer, quando Hoffmann tenta uma nota alegre o que lhe sai é uma nota triste. Quando procura uma melodia serena sai-lhe uma variação assustadora. «Com efeito, E.T.A. Hoffmann foi sempre um instrumento com uma pequena fenda.» O mestre alemão seria, pois, uma espécie de escritor com defeito. Não um defeito técnico, como acontece numa máquina — um cortador de relva que não funciona correctamente, por exemplo —, mas um defeito humano, criador de arte. Seja como for, um instrumento musical capaz de criar uma música estranha e desafinadamente bela. Não há melhor elogio que se possa fazer a um escritor.

Poetas da própria existência

(...) 8-11-82 (Para substituir o exemplar de há mais de 30 anos — talvez 1.ª ed. — de que agora dei pela falta.) Dedicatória na primeira página de Três poetas da própria existência , de Stefan Zweig, livro que encontrei, entre bibelôs de porcelana, sapatos de senhora e calças de ganga usadas, na Feira da Vandoma. A dedicatória, dirigida a si mesmo pelo antigo proprietário, está escrita numa letra delicada e perfeitamente legível. A única coisa que não consigo perceber é o nome. Tenho muitos livros comprados em feiras de usados e alfarrabistas, com toda a espécie de dedicatórias, frases sublinhadas e notas, escritas por leitores que nunca conheci e de quem nada sei. Leitores que, na sua maioria, já não fazem parte deste mundo, mas cujas marcas persistem nas minhas leituras e, por isso, na minha vida. Dir-se-ia uma outra literatura que avança em paralelo com a das páginas impressas. Em que lugares, em que circunstâncias, a que horas do dia e da noite todos estes leitores mergulha