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A mostrar mensagens com a etiqueta As bruxas de Salém

Reacendimentos

É muito provável que aquilo que aterroriza uma geração não provoque mais do que um sorriso perplexo à geração seguinte. Lembro-me de como, em 1964, apenas vinte anos após a guerra, Harold Clurman, o encenador de Incident at Vichy , mostrou aos actores o filme de um discurso de Hitler, na esperança de lhes dar uma ideia do período nazi em que decorria a acção da minha peça. Os actores, vendo como Hitler, perante um imenso estádio repleto de adoradores, se punha em bicos de pés, em êxtase, com as mãos entrelaçadas debaixo do queixo e um esgar de sublime auto-satisfação, agitando afectadamente o corpo, riram dos exageros daquela actuação. (Arthur Miller, Porque escrevi As Bruxas de Salém , incluído no Manual de Leitura de As Bruxas de Salém , com edição do TNSJ e tradução de Rui Pires Cabral.) Miller escreve este texto em 1996. Vinte anos depois, com as fogueiras de novos fanatismos a irromperam por toda a parte como um vendaval, pergunto-me se os actores de agora, vendo Hitler, terão a m

O público

Novembro de 1962. O crítico de teatro Carlos Porto, a propósito da encenação de As Bruxas de Salém , no Teatro Nacional D. Maria II, queixa-se do público: «Rir quando num palco se vivem momentos de tragédia, não é digno do público de uma capital.» Nenhuma destas palavras envelheceu um segundo. O riso nas plateias continua a pontuar as cenas mais trágicas. E o público da capital continua a ser, sem sombra de dúvida, o mais sofisticado do país. Imagine-se a onda de gargalhadas que As Bruxas de Salém não desencadeariam num teatro de São Pedro da Cova. Felizmente, não há teatros em São Pedro da Cova.

Como são pesados

Hale aparece carregado de meia dúzia de pesados alfarrábios. HALE: Por amor de Deus, ajudem-me! PARRIS, encantado : Reverendo Hale, que prazer tornar a vê-lo (agarrando alguns livros) . Santo Deus, como são pesados! HALE, pousando os livros : Não admira: têm o peso da autoridade! PARRIS, um tanto amedrontado : Sim, senhor, o Reverendo vem bem preparado! HALE: É preciso estudar muito para podermos cortar as voltas ao Mafarrico, que julga? Arthur Miller, As bruxas de Salém . Tradução de Rui Guedes da Silva.