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Por assim dizer

ACTRIZ: Aonde vais? POETA: Vou dar umas voltas em frente da janela. Gosto muito de passear ao relento. É quando me vêm as melhores ideias. E especialmente junto a ti, envolvido - por assim dizer - no meu desejo de ti... embebido na tua arte. ACTRIZ: Pareces um atrasado mental a falar. POETA (magoado) : Há mulheres que diriam... que pareço um poeta. Arthur Schnitzler, A Ronda . Tradução de Manuel Resende.

Trigorine

Por onde começar? (Após reflectir.) Existem daquelas ideias que nos absorvem, dia e noite não se pensa noutra coisa, na lua, por exemplo, e eu também tenho a minha lua. Dia e noite sou possuído por uma ideia: preciso de escrever, preciso de escrever, é indispensável... Mal termino um conto, tenho, não sei porquê, mas tenho de escrever outro, depois um terceiro, um quarto... Escrevo sem parar, como se temesse falhar a correspondência, e não posso esquivar-me a isso. Que encerra isto de maravilhoso e luminoso, não mo dizeis? Que vida absurda! Estou aqui convosco, estou enervado e excitado e, no entanto, não esqueço por um segundo o conto que ainda não acabei. Vejo passar aquela nuvem que se parece com um piano de cauda. E penso: em qualquer parte do meu conto tenho de mencionar esta nuvem que se parece com um piano de cauda. Aquilo cheira a heliotrópio. Apresso-me a tirar daí as minhas conclusões: perfume suave, cor de viuvez, motivo para descrever uma noite de Verão. Estou atento a cad

Um engraçadinho, um mistificador, um farsante

Eu não acredito que o Sr. Ionesco seja um génio ou um poeta; eu não acredito que o Sr. Ionesco seja um autor importante; eu não acredito que o Sr. Ionesco seja um homem de teatro; eu não acredito que o Sr. Ionesco seja um pensador ou um alienado; eu não acredito que o Sr. Ionesco tenha qualquer coisa a dizer. Eu acredito que o Sr. Ionesco é um engraçadinho (não quero acreditar no contrário, seria muito triste), um mistificador, logo, um farsante. Jean-Jacques Gautier, Figaro , Outubro de 1955. *** Há uma querela Ionesco. Para J.-J. Gautier, esse dramaturgo é um engraçadinho, um mistificador, um farsante . Kemp, menos veemente, suspira: Uma reles curiosidade do teatro de hoje . Anouilh, pelo contrário, vê nele um dos mais válidos representantes do "jovem teatro francês". Touchard, entusiasmado, escreve: Ionesco eleva-se a uma altura a que os nossos olhos já não estavam habituados. Marcel Thiébaut, Abril de 1959. Sábado, 5 de Novembro, pelas 17h00, no Gato Vadio.

Próximo sábado, 5 de Novembro.

Imagem de Lina&Nando .
Marlene Dumas, Chlorosis (Love Sick) , 1994.

E depois não faria mais nada!

Marie quer levar-me a passear. (...) Vem buscar-me ao fundo da horta, sob a árvore onde instalei uma mesinha, uma cadeira, os meus cadernos. Estou a escrever, a escrever, a escrever. Escrevi toda a minha vida, nunca soube fazer outra coisa. Marie impacienta-se: - Nunca mais acabarás esse trabalho, essas escritas? - Não, Marie, não acabarei. - Se eu fosse a ti, trabalharia um dia inteiro, de manhã à noite... ou mesmo três dias a fio... e depois não faria mais nada! Eugène Ionesco, Páginas de Diário . Tradução de Carlos Cunha. Sábado, 5 de Novembro, pelas 17h00, no Gato Vadio.
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