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Mensagens

Tragédia brasileira

Misael, funcionário da Fazenda, com 63 anos de idade, conheceu Maria Elvira na Lapa, prostituída, com sífilis, dermite nos dedos, uma aliança empenhada e os dentes em petição de miséria. Misael tirou Maria Elvira da vida, instalou-a num sobrado no Estácio, pagou médico, dentista, manicura... Dava tudo quanto ela queria. Quando Maria Elvira se apanhou de boca bonita, arranjou logo um namorado. Misael não queria escândalo. Podia dar uma surra, um tiro, uma facada. Não fez nada disso: mudou de casa. Viveram três anos assim. Toda vez que Maria Elvira arranjava namorado, Misael mudava de casa. Os amantes moraram no Estácio, Rocha, Catete, Rua General Pedra, Olaria, Ramos, Bonsucesso, Vila Isabel, Rua Marquês de Sapucaí, Niterói, Encantado, Rua Clapp, outra vez no Estácio, Todos os Santos, Catumbi, Lavradio, Boca do Mato, Inválidos... Por fim na Rua da Constituição, onde Misael, privado de sentidos e de inteligência, matou-a com seis tiros, e a polícia foi encontrá-la caída em de

Biografias breves de autores famosos #2

Massimo Panzini (1825-1904) Massimo Panzini é o romancista, dramaturgo e jornalista mais representativo da Itália oitocentista. A sua obra é vastíssima e inclui novelas, poesias, peças, discursos, romances, contos, ensaios historiográficos, e nela é fácil encontrar um humor sadio e tranquilo, quase romântico, mas também a filosofia e o sabor amargo e cruel da realidade. Entre os seus livros mais importantes, contam-se “O cinto de castidade”, “Minha, tua, sua”, “Porco aqui, porco acolá”, “o cão que fala” e “A mulher loiríssima”. Aos 17 anos foi premiado pelo romance “O meu irmão de leite”. O seu estilo e inesgotável imaginação, simples, primitiva e de carácter oriental, dão-lhe características muito particulares no panorama literário italiano. Se se reunisse todo o champanhe que bebeu ao longo da vida criar-se-ia outro Mississípi e se se juntasse a cinza de tudo o que fumou pensar-se-ia que era o Vesúvio.

Mentira

A literatura, isto é, a vida, pode trair tudo, mas há uma coisa a que será sempre fiel: a mentira. A mentira é a única verdade que existe. É o que nos salva da anulação total. A luz solitária na noite escura. Graças à mentira, sabemos coisas secretas, misteriosas, que não parecia possível alguma vez sabermos, como seja as artes sombrias de Tchíchikov. Ou as extraordinárias digressões de Dom Quixote. Foi por causa da mentira que se inventaram as palavras. As palavras foram criadas para podermos mentir melhor. Que desperdício as palavras usadas para outros fins que não seja mentir. Kafka ponderou a questão e definiu-a genialmente: “O tempo que nos é concedido é tão breve que, se perdermos um segundo sem mentir, já teremos perdido toda a nossa vida.” A mesma mentira pode ser contada de muitas maneiras diferentes, dependendo do estilo, da imaginação e do talento de cada um. No entanto, nem tudo o que se conta é tocado pelo sopro da verdadeira beleza, nem tudo consegue superar a prova do

Biografias breves de autores famosos #1

Zoltán Rákosi (1861-?) Escritor fecundo e de refinado gosto, com estadia prolongada em Paris a cursar a Sorbonne e o Colégio de França. Escreveu uma multitude de contos e ensaios literários, e cinco grandes novelas. Em 1922 era director do Teatro Nacional de Budapeste. De um humor vivo, cintilante, sempre cheio de observação e graça. Sofria de herpes labial.

M. de Milgueta

Muitos escritores usam iniciais para nomear as personagens das suas histórias. É uma técnica clássica. M. apaixona-se por L., mas L. está mais interessado no Pato à l'Albigeoise de B. Numa suite de hotel, A. tem relações íntimas com D., enquanto no quarto ao lado, com vista para o jardim, W observa Z. a esconder o cadáver de F. Alguns dos melhores autores da literatura universal serviram-se largamente deste recurso. O objectivo, está bem de ver, é preservar a identidade das personagens. É nisso que os escritores querem que acreditemos. A verdade, porém, é outra e o motivo para o uso das iniciais é bem mais prosaico. A verdade é que muitos autores têm uma tendência incontrolável para criar personagens com nomes que devem muito pouco à dignidade literária, digamos assim. E os que têm consciência disso, disfarçam essa tendência usando apenas as iniciais. O romancista Franklin De Brosses usou repetidamente esta técnica. Quem não se emocionou com a incrível história de amor entre A. e

Sábado, 20, 19h00

No próximo sábado, 20 de Setembro, pelas 19h00, Os Anacronistas vão estar no Festival de Spoken Word , no âmbito do programa da Feira do Livro do Porto 2014. O espectáculo terá lugar no Auditório da Biblioteca Almeida Garrett e, como sempre, haverá biscoitos e bolinhos quentes. A imagem é da autoria dos Lina&Nando .

História completa do nosso amor

Sempre acontecem coisas muito surpreendentes neste mundo. Coisas tão estranhas e inexplicáveis que (...). Mas talvez não sejam assim tão estranhas. Em abono disso poderia citar Aristófanes, Horácio, Luciano de Samósata, e alguns mais. Tudo isto vem também explicado num livro que o leitor bem conhece e que me dispensará portanto de lembrar. Um livro, de resto, com grande abundância de suspiros e ais, como convém a tudo o que brota da literatura séria, solene e (…). Vou descrever os factos na sua simplicidade, deixando ao leitor o encargo de formular um juízo. Pois muito bem, fosse porque (…) ou por qualquer outro motivo, o certo é que (…). Ninguém sabe de quem partiu a ideia. Eu estou convencido de que partiu dele. Mas (e é um mas muito importante) talvez seja apenas a minha imaginação (…). Ela não disse nada. Trincou o lábio inferior e deixou as coisas neste ponto. (…) A noite ia amadurecendo, cheia de segredos. Quando ele voltou para casa, o sangue corria-lhe em tumulto por baixo da
Outra constatação a que chegam é que erros gramaticais apontados no francês dos “Cantos [de Maldoror]”, por críticos antigos, em espanhol são considerados usuais e corretos, justificando-se pelo fato de o autor estar entre línguas. O bilinguismo do poeta seria assim causa de erros e êxitos, pois foi “essa condição que lhe permitiu inovar na língua francesa com mais liberdade do que aqueles que nunca saíram dela”. Leonardo Fróes.
«Hace mucho tiempo, cuando era un estudiante, Robert Frost dio una lectura de poesía en Harvard. Después de leer el poema, uno de los estudiantes le preguntó: «¿Cuál es el significado de ese poema?». Frost estaba sentado, y de repente se puso de pie y dijo: «Simplemente leé el poema de nuevo». Buenos Aires Poetry 2.
Zephyrus Image.

Uma ideia

E Olaf disse: “Anthea, tenho uma ideia!” E segredou-lhe qualquer coisa ao ouvido ao longo de trinta e cinco anos. E durante esse tempo a orelha de Anthea ardeu muito, ao ponto de se separar da cabeça e cair. E quando Olaf terminou, ela disse: “Realmente é uma grande ideia.” Mas disse aquilo apenas para ser agradável porque na verdade a ideia não era boa.

Joyce

Como é sabido, o Sr. Joyce requisitava todos os dias os menus dos principais restaurantes de Dublin. Só conseguia escrever depois de se assegurar que, naquele momento, nenhum deles estava a servir “sopa de legumes com ovos de codorniz”. E qual é o interesse disto? Nenhum.