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Mensagens

Dois postais de Viena

O papel é duro como mármore  Seguindo as indicações de Cláudio Magris , e atravessando Rossauer Brücke, chegamos a Rembrandtstraße. É uma rua relativamente pequena, cinzenta e silenciosa. Em quase todas as entradas, há placas em mármore ou bronze a lembrar os nomes de cidadãos judeus que foram deportados durante o nazismo. São dezenas e dezenas de nomes, famílias inteiras. No número 35, viveu Joseph Roth. É uma das raras entradas onde não existe qualquer placa. Também não há qualquer referência à passagem de Roth por aqui. Seja como for, uma página de papel com o seu nome será sempre tão sólida e duradoura como uma placa de mármore.   Uma pedra e uma trepadeira O túmulo de Karl Kraus fica próximo de uma das portas secundárias do gigantesco cemitério central de Viena, o Wiener Zentralfriedhof, muito longe dos túmulos de Schubert ou Beethoven. Uma pedra de granito, intencionalmente mal esculpida, exibe apenas o nome. Não há indicação das datas de nascimento ou morte. A ca

Preparação para Medeia: experiências de química

SENHOR ORLAS (suspira) : A vida é um abismo de contradições, Araminthe. Bem! Vou para o meu gabinete reflectir em tudo isto. Não posso acreditar que não haja uma solução em que o dever e a felicidade se conciliem. ARAMINTHE: Eu creio, senhor, que é essa a grande inquietação dos homens, desde que saíram das cavernas para tentar viver em sociedade. Inventaram o casamento para tentar conjugar ao mesmo tempo essas duas noções. SENHOR ORLAS: Apenas por um curto espaço de tempo, Araminthe. Acredite num homem que tentou essa aventura! O que se passa a seguir é como uma dessas experiências de química em que se deleita o nosso vizinho, senhor Voltaire. Ao princípio, a mistura brilha; depois, a felicidade, que é volátil, evapora-se e não fica na retorta senão o grosso calhau cinzento do dever. Jean Anouilh , Cecile ou a escola de pais. Tradução de Virgínia Mendes.

Preparação para Medeia: o lápis de Jean Anouilh

Sónia Andrade, Hidragramas .

O cacto sobre a mesa

Aki Kaurismäki, O outro lado da esperança .

Preparação para Medeia: um Jasão sem nome

O DESCONHECIDO - Chamo-me Roger van Hutten. Não é o meu nome. Não tenho nome. Sou filho de um vendedor de fundas de Arras, que não me quis reconhecer. Daí a minha carreira. Decidido a nunca mostrar a minha cédula de nascimento, afastei-me da vida em que as pessoas fazem exames, se casam, vão para soldado ou recebem heranças - em resumo, de toda a vida em que nos exigem um bilhete de identidade - e entrei naquela onde se passa sem ele. Assim me liguei a tudo quanto não necessita, também, do tal bilhete de identidade: aos fósforos belgas, às rendas e à cocaína. Livros especiais também. Na vida de um aventureiro há sempre um período em que ele se sustenta da lubricidade humana. A necessidade em que me vi de empurrar um funcionário de alfândega para lá de uma fronteira donde se não regressar, obrigou-me a embarcar como fogueiro para uma costa que aconteceu ser a da Malásia. Aí tive possibilidades de me safar e organizar o contrabando de chifres de rinocerontes, base de toda a medicamentaçã

A verdadeira natureza