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Mensagens

Doenças terríveis

Ritmos, rimas, assonâncias, aliterações, paronomásias, anáforas, metonímias, catacreses, zeugmas, polissíndetos, onomatopeias, assíndetos, silepses e outras doenças terríveis. (Pausa para fungar e olhar pomposamente para o leitor.) Não admira que a maioria dos grandes poetas morra cedo.

Dois poetas sentam-se a uma mesa de café

Dois poetas sentam-se a uma mesa de café. Um de mãos nos bolsos, o outro segurando um saco de supermercado. Quando as palavras começam a cair do tecto, o primeiro recolhe as que lhe interessam, abrindo simplesmente a boca. O segundo é como um cego, não distingue nada, e lança-se furiosamente ao ar, ora agitando o saco, ora gritando como um desalmado, na esperança de apanhar algumas palavras com valor. Estão a ver o que eu quero dizer? Estão a ver como isto vai acabar?
Medo (da morte) não. Nem gosto de dizer essas coisas, porque não gosto de contar valentia por antecipação. Pode ser que, na hora, eu até me apavore. Mas não tenho medo. Só tenho medo de morrer sem terminar um livro que eu esteja escrevendo. Ariano Suassuna, em entrevista ao "Globo", 4 de Agosto de 2013.
Hemingway.

Desmayo

Aqui.

Praestantia Prestantia

Há um pequeníssimo ponto, do tamanho de uma cabeça de alfinete, situado na parte posterior do lóbulo da orelha, no verso – se assim se pode dizer – do antítrago, a que os médicos e anatomistas nunca dedicaram especial atenção. Portanto, como ninguém identificou ainda esta zona, se me for permitido atribuir nomes às coisas descobertas por mim, que seja chamada “ponto de sua excelência” ou “ponto de monsenhor”. Praestantia Prestantia , na nomenclatura anatómica.

Dois passageiros numa carruagem de comboio

Numa carruagem de comboio, viajam dois passageiros. Um deles não tem um braço. É maneta, portanto. Quer dizer, é aleijado. Defeituoso, tolhido. Privado da harmoniosa proporção, obra enganadora da natureza, erro de formação. Imagino como lhe será difícil andar de bicicleta. Não é impossível, mas é difícil. Como terá ele perdido o braço? Presumo que por uma série de desafortunadas circunstâncias. Vitima de uma tragédia terrível numa noite escura. Salvo talvez da morte por um milagre. Podia entregar-me agora a mil reflexões penosas sobre as mil maneiras de perder um membro, mas não quero alongar-me neste ponto. A respeito de tais assuntos, o mais seguro é sempre não dizer nada. Há outro tópico importante que talvez mereça mais atenção. O tópico é este: onde estará o braço neste momento? O que andará a tramar? Um braço sozinho, sem ninguém a vigiar. Um descalabro. Só de pensar nisso sinto-me doente. Imaginem-no, a pavonear-se nas ruas, nos cafés, nas esplanadas, a saltar daqui para acolá
- Estou a aprender a escrever, agora que a idade já me pesa - disse o pai, quase com uma sensação de vergonha -, de resto, os caracteres no estilo Fujiwara não são de todo inúteis para desenhar os tecidos, não te parece? - … - O pior que tudo é que a minha mão já treme. - E se os escrever maiores? - Bem, talvez… Yasunari Kawabata, Kyoto . Tradução de Virgílio Martinho.
Megumi Kajiwara e Tathuhiko Nijima.

A sexta de Mahler

A sexta sinfonia de Mahler exige uma orquestra de dezasseis primeiros violinos, dezasseis segundos violinos, doze violas, doze violoncelos, doze contrabaixos, quatro flautas, quatro oboés, um clarinete em mi bemol, três clarinetes em si bemol, um clarinete baixo em si bemol, três fagotes, um contrafagote, oito trompas, quatro trompetes, três trombones, uma tuba, duas harpas, uma celesta, timbales, pratos, tamborim, um pedaço de matéria acabrunhada e murcha, uma bicicleta de rodas de raio desigual, uma bengala, um elevador, um dirigível e um pêssego (caroço e polpa).