All fiction writers work by indirection: to show not to tell. Eudora Welty, 1984. É como um exercício de ilusionismo: todos os bons escritores têm um truque. Eudora Welty , que também foi uma excelente fotógrafa, constrói visões espantosas dentro dos olhos do leitor. Visões cheias de cor, textura, pormenor, luz, sombra, mas também, e sobretudo, visões que têm som, cheiro, temperatura, emoções. Visões cheias de vida , mais impressionantes do que fotografias ou filmes, porque é a nossa imaginação que está em movimento. Mais fortes até do que a própria imaginação, porque estão vivas. Uma espécie de outra realidade criada pela ficção. E o leitor mergulha serena e secretamente neste truque assombroso. Nos canteiros de flores saltitavam os piscos do costume. O sistema de rega gotejava agora. Entrámos de novo em casa pela porta das traseiras. As nossas mãos tocaram-se. Pisámos o canteirinho de hortelã-pimenta da Tellie. O gato amarelo esperava para entrar connosco, a maçaneta da porta
de Cristina Fernandes e Rui Manuel Amaral