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Mensagens

Corpo de Deus

Uma floresta em marcha

Última nota sobre Macbeth . No final de Macbeth , antes da derradeira batalha, Malcolm ordena aos soldados que cortem ramos das árvores de Birnam e que avancem ocultos atrás deles, de maneira a confundir o inimigo. MALCOLM: Que cada homem corte pra si ramos E os leve à sua frente, pra escondermos O número dos nossos e induzirmos Em erro os espiões. Shakespeare, Macbeth , 5.4 Que melhor imagem para ilustrar aquilo que somos? Um bando de criaturas ardilosas, assustadas e determinadas em esconder a sua angústia atrás de ramos de árvores. Tal como no início dos tempos.

A arte de sublinhar Macbeth, segundo Marquês de Sade

No Manual de Leitura de Macbeth , editado pelo  Teatro Nacional de São João , Rui Carvalho Homem escreve sobre a famosa “intemporalidade” de Shakespeare. Quer dizer, sobre a “capacidade de o texto shakespeariano nos propor um entendimento do mundo e do humano”, que atravessa o tempo e o espaço. Essa “intemporalidade”, continua Rui Carvalho Homem, é “encarada hoje com reserva (ou cepticismo)” pela crítica académica, em resultado do aparecimento de “novos contextualismos”. No entanto, é inegável que Shakespeare foi e continua a ser “fonte de ampla produção literária e artística”, e a sua influência “não encontra paralelo em qualquer outro corpus literário e dramático”. Shakespeare criou o mundo em sete dias. No primeiro dia fez o céu, as montanhas e os abismos da alma. No segundo dia fez os rios, os mares, os oceanos E os restantes sentimentos - Que deu a Hamlet, a Júlio César, a António, a Cleópatra e a Ofélia, A Otelo e a outros, Para que fossem seus donos, eles e os seus

Macbeth na alcova

Tenho pensado em Macbeth por causa da leitura de Nuno Carinhas , actualmente em cena no São João. É óbvio que Shakespeare está em todo o lado, mas não existirá uma estranha e íntima ligação entre Macbeth e as ficções de Marquês de Sade? E estou a pensar, em particular, na Filosofia na Alcova . Voltarei ao assunto.

David Lynch para crianças

David Lynch costuma lembrar que não vale a pena procurar explicações ou respostas nos seus filmes. Acho que Lynch está certo: é inútil tentar explicar uma obra de arte. O nosso drama é sermos humanos e convivermos mal com aquilo que não conseguimos explicar. Por isso, criámos Deus e os críticos. Ambos oferecem as explicações inexplicáveis de que precisamos. Ambos pertencem ao domínio da fé. O que é curioso em David Lynch: The Art Life é a quantidade excessiva de explicações. Lynch oferece um significado para cada aspecto da sua obra ou, pelo menos, uma proposta de significado. E o mais curioso ainda, tratando-se de Lynch, é a pobreza confrangedora desse “exercício explicativo”. A história que ele constrói, a partir da memória dos seus anos de formação, é uma sequência de lugares-comuns e ideias superficiais. Tudo demasiado óbvio, redondo, sem sombra de profundidade. Na verdade, o filme parece uma colecção de sound bites sobre a arte e a “vida de artista”, montados segundo a lógica

Ideia para uma investigação

Estudar as semelhanças entre a repórter Alice Schalek, personagem de Karl Kraus, e Madame Valiche, personagem de Jean Cocteau. Madame Valiche, participante secundária da louca jornada de  Tomás, o Impostor , parece uma cópia menos sofisticada da incontornável Schalek, de Os últimos dias da humanidade .  Ou Alice Schalek é uma versão mais complexa de Madame Valiche. Onde acaba uma e começa a outra? Alice Schalek, como outras personagens de Karl Kraus, é inspirada numa figura real . Madame Valiche, por sua vez, não se inspira em nenhuma personalidade conhecida, ou seja, é inspirada em muitas. Kraus começou a escrever a sua obra-prima em 1915 e publicou-a em livro em 1922. Cocteau lançou Tomás, o Impostor , em 1923. O primeiro parágrafo de Tomás, o Impostor parece o resumo possível de Os últimos dias da humanidade :  A guerra principiou na maior desordem. Esta desordem nunca cessou, do princípio ao fim. Uma guerra breve teria podido amadurecer e, por assim dizer, cair da árvor