Avançar para o conteúdo principal

Mensagens

A mostrar mensagens com a etiqueta Ludwig Wittgenstein
1914 Temos tendência para confundir a fala de um chinês com um gorgolejo inarticulado. Alguém que compreenda mandarim reconhecerá, no que ouve, a língua . Muitas vezes, não consigo, analogamente, distinguir num homem a humanidade . Ludwig Wittgenstein, Cultura e Valor, tradução de Jorge Mendes, Edições 70.

Beep beep

“As observações filosóficas deste livro são comparáveis a um conjunto de esboços paisagísticos surgidos ao longo destas enredadas e longas viagens” — escreve Wittgenstein no prólogo das Investigações. O esplendor da natureza parece uma proposta aprazível. Wittgenstein não nos avisa, porém, que a paisagem é uma sequência de desfiladeiros.

Técnicas de distracção

Os erros de leitura nem sempre são errados . Li “cada frase tem uma detonação” e só ao chegar ao fim do parágrafo é que percebi que a palavra impressa era “denotação”. Faz mais sentido, é verdade, mas às vezes vale a pena inserir algum estardalhaço no texto — nem que seja para distracção.

“Apontar para uma coisa com a atenção”

O fragmento 275 das Investigações Filosóficas é inebriante. Wittgenstein escreve céu azul (podia ser rosa vermelha, mesa de trabalho, flor amarela) e parece que estamos no jardim infantil a brincar com cubos e triângulos. Depois pega num pau de giz e traça uma linha no chão junto aos nossos pés; do outro lado está tudo o que não nos ocorrerá pensar . Afinal não é uma brincadeira (adeus Alice); é uma prova de esforço. Ficamos com uma vontade danada de saltar o risco. Não basta um passo. É necessária uma equação.

275

Olha para o azul do céu e diz a ti próprio: “Que azul que está o céu!” Se fizeres esta experiência espontaneamente — sem intenções filosóficas — então não te ocorrerá pensar que esta impressão cromática pertence apenas a ti . E não tens qualquer hesitação em te dirigires, com esta exclamação, a uma outra pessoa. E se, ao pronunciá-la, apontas de todo, então apontas para o céu. Quero eu dizer que não sentes que apontas para-ti-próprio, o que muitas vezes acompanha o “dar o nome à sensação”, quando se reflete sobre a “linguagem privada”. Também não pensas que não deves apontar para a cor com a mão, mas sim com a atenção. (Medita sobre o que é “apontar para uma coisa com a atenção”). Investigações Filosóficas, de Ludwig Wittgenstein. Tradução de M. S. Lourenço. Edição da Fundação Calouste Gulbenkian. Setembro de 2002.

No futuro seremos todos filósofos

Ler as “Investigações Filosóficas” de Wittgenstein é capaz de ser a experiência que mais nos aproxima da aprendizagem dos sistemas de inteligência artificial. Mesmo praticando uma leitura superficial e aleatória, sentimos uma espécie de corrente eléctrica a atravessar os pensamentos. No futuro seremos todos filósofos.

Platte!

Práticas diletantes em ambiente germânico

Consigo compreender a linguagem em ponto morto ou de férias , mas custa-me vê-la como uma caixa de ferramentas . Tenho uma noção bastante sólida da palavra “ferramentas” (martelo, alicate, serra, chave de fendas); imagino-a pesada ou afiada e não encontro essas propriedades na linguagem, nem sequer no alemão. A linguagem cotidiana descamba sempre — tem uma consistência gelatinosa tipo pega monstro. Por isso leio as investigações de Wittgenstein essencialmente como lances místicos. Transformar a linguagem em ferramenta, ou até mesmo arma, para desactivar a filosofia talvez seja possível mas só depois de levitar um bocadinho. Quanto?

Pois claro, deve ser assim.

Ando há uns dias a pensar escrever uma espécie de defesa argumentativa em três ou quatro linhas sobre a palavra ideologia, mas quando fui consultar a definição do dicionário e li “Confrontar: edeologia” , percebi que nunca poderia fazer melhor do que isso. Está ao nível do tratado de anedotas que Wittgenstein nunca escreveu.

Profound semicolon

A sentence from Wittgenstein contains a “fantastically vague semicolon”: “ Der Philosoph behandelt eine Frage; wie eine Krankheit .” (“The philosopher treats a question; like an illness.”) This has been translated by G. E. M. Anscombe thus: “The philosopher’s treatment of a question is like the treatment of an illness.” But, in removing what Erich Heller, an expert in German philosophy, calls a “profound” semicolon, one that “marks a frontier between a thought and a triviality,” the translator has reduced a deep thought to a bland one. Watson writes, sounding like the “punctuation therapist” she sometimes plays, “Ambiguity can be useful and productive, and it can make some room for new ideas.”

Episode 12B (philosophical version)

How to recognise different types of philosophical metaphors from quite a long way away. NO. 1 THE LADDER

Wittgenstein's Ladder

"My propositions serve as elucidations in the following way:  anyone who understands them eventually recognizes them as nonsensical, when he has used them — as steps — to climb up beyond them. (He must, so to speak, throw away the ladder after he has climbed up it.)" — Ludwig Wittgenstein, Tractatus 1. The first time I met Wittgenstein, I was late. "The traffic was murder," I explained. He spent the next forty-five minutes analyzing this sentence. Then he was silent. I wondered why he had chosen a water tower for our meeting. I also wondered how I would leave, since the ladder I had used to climb up here had fallen to the ground. 2. Wittgenstein served as a machine-gunner in the Austrian Army in World War I. Before the war he studied logic in Cambridge with Bertrand Russell. Having inherited his father's fortune (iron and steel), he gave away his money, not to the poor, whom it would corrupt, but to relations so rich it would not thus affe