O traseiro de Bastian era o sítio para onde convergiam todos os pés. Homens, mulheres, velhos, novos, padres, políticos, altos ou coxos, ninguém se poupava a um belo pontapé no traseiro de Bastian. Era um hábito que fazia parte da vida da cidade. Os pontapés sucediam-se nas ruas, nos transportes públicos, nos cafés e no escritório, com a precisão de um relógio solar. Durante a noite ainda ia tudo bem. Mas de manhã o martírio do pobre homem começava. Havia sempre alguém com vontade de desferir um panásio certeiro. E ao fim do dia, esgotado, abatido, amarrotado, com o traseiro moído de pancadas, arrastava-se até casa. Apesar disso, Bastian conservava a impassibilidade de um santo de altar. Era um homem pacífico, incapaz de fazer mal a uma mosca. Tossia, arqueava as sobrancelhas, acendia um cigarro, e lá ia andando e apanhando pontapé atrás de pontapé. Mas por que razão não punha ele termo àquilo? Por que não fazia qualquer coisa, por que não tomava uma atitude? Os anos foram passando,