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Morte programada

O capítulo 33 de Desejar Desobedecer , de Didi-Huberman, é dedicado ao Gueto de Varsóvia: “No interior desses muros, a população judaica foi deliberadamente submetida pelos nazis à fome. Começou, nessa altura, a morte programada de todo um povo.” É difícil não pensar em Gaza. Adenda:  Nem de propósito, a edição de hoje do Público  (21 de Setembro) traz uma longa entrevista com Didi-Huberman. O pretexto é justamente o livro Desejar Desobedecer . Uma passagem: “a actualidade é a continuação da História por outros meios. É fundamental trabalhar sobre a questão da História e de uma forma permanente. O horror de Gaza não nos deve [levar a] considerar o horror da Shoah como coisa do passado. Não concordo nada com essa ideia. É a mesma história, é a mesma história. O passado nunca passa.”

Eles sobrevivem em nós

Uma citação de Didi-Huberman fora do contexto: «[Elas] têm gestos muito, muito antigos, bem mais antigos do que elas próprias. Gestos que vêm de muito longe no tempo. Esses gestos são como os fósseis em movimento. Têm uma história muito longa - e muito inconsciente. Eles sobrevivem em nós .» Didi-Huberman não está a falar de As Filhas do Fogo , mas podia. Talvez sejam aqueles «gestos que vêm de muito longe» que me instigam a relacionar o filme com a tragédia antiga. Quer dizer, com a nossa tragédia.

Organizar o pessimismo

Na própria época - de 1933 a 1940 - em que Walter Benjamin evocava essa possibilidade de «organizar o pessimismo» mediante o recurso a certas imagens ou configurações de pensamento alternativas, a vida quotidiana certamente não o poupava a preocupações. Será que conseguimos imaginar o que era a vida desse judeu alemão «sem recursos», em fuga permanente ante o cerco que se fechava à sua volta? A impressão de Agamben sobre a destruição da experiência da nossa vida quotiana, alegadamente mais «insuportável» do que «em momento algum do passado», deverá, pois, ser ponderada a partir deste contraste. Um contraste ainda mais evidente na medida em que Benjamin soube «organizar o seu pessimismo» com a graça dos pirilampos, procurando, por exemplo, entre o teatro épico de Bertolt Brecht e a deriva urbana dos poetas surrealistas, entre a Biblioteca Nacional e a Passagem dos Panoramas, esse «espaço de imagens» capaz de contradizer a polícia - as terríveis coações - da sua vida....

Resistência

Certa vez, quando lhe perguntaram se, enquanto artista de esquerda, tinha nostalgia dos tempos brechtianos ou da literatura «engagée» à francesa, Pasolini respondeu nos seguintes termos: «De modo nenhum. Tenho simplesmente a nostalgia da gente pobre e verdadeira, que lutava para derrubar o patrão, mas sem querer com isso tomar o seu lugar.» Um modo anarquista, dir-se-ia, de separar a resistência política de uma simples organização de partido. Georges Didi-Huberman, Sobrevivência dos Pirilampos . Tradução Rui Pires Cabral.