HOMEM B - Valha-me Deus! Lá voltei a perder a perna outra vez!
HOMEM A - Sim, perdeu-a mesmo, não há dúvida.
HOMEM B - O que é que posso fazer agora?
HOMEM A - Volte a aparafusá-la.
HOMEM B - Impossível. Vi que os parafusos rolaram para a sarjeta.
HOMEM A - Pois chame um guarda.
HOMEM B - (Com grande decisão, como se tivesse uma raiva especial ao poder estabelecido e a todos os seus representantes.) Nunca!
HOMEM A - Resta uma outra solução.
HOMEM B - Qual?
HOMEM A - Coma a perna.
HOMEM B - A minha própria perna?
HOMEM A - (Sem perder nem por um instante o seu ar de senhorito aborrecido, que se esforça inutilmente por encontrar à sua volta um motivo de distracção.) Sim, coma essa perna que o atraiçoou. Você parece um tipo bastante satisfeito consigo próprio. Foi o que eu pensei mal o vi a atravessar a rua. Mostre agora a todos até que ponto se ama a si próprio. Essa perna que perdeu, ao fim e ao cabo, é de carne e osso.
HOMEM B - (Desconcertado.) Reconheço que gosto bastante de mim, mas receio que não chegue a esse ponto.
HOMEM A - Vamos, decida-se! Vença essa timidez! Diga-nos agora quanto se tem amado!HOMEM B - No meu lugar, o que é que você faria?
HOMEM A - Não duvidaria nem por um instante. Devorar-me-ia.
HOMEM B - Para a frente, então. O que um homem faz, também outro o pode fazer.
Javier Tomeo, Histórias mínimas. Tradução de Maria Dulce Teles de Menezes e Salvato Teles de Menezes.
HOMEM A - Sim, perdeu-a mesmo, não há dúvida.
HOMEM B - O que é que posso fazer agora?
HOMEM A - Volte a aparafusá-la.
HOMEM B - Impossível. Vi que os parafusos rolaram para a sarjeta.
HOMEM A - Pois chame um guarda.
HOMEM B - (Com grande decisão, como se tivesse uma raiva especial ao poder estabelecido e a todos os seus representantes.) Nunca!
HOMEM A - Resta uma outra solução.
HOMEM B - Qual?
HOMEM A - Coma a perna.
HOMEM B - A minha própria perna?
HOMEM A - (Sem perder nem por um instante o seu ar de senhorito aborrecido, que se esforça inutilmente por encontrar à sua volta um motivo de distracção.) Sim, coma essa perna que o atraiçoou. Você parece um tipo bastante satisfeito consigo próprio. Foi o que eu pensei mal o vi a atravessar a rua. Mostre agora a todos até que ponto se ama a si próprio. Essa perna que perdeu, ao fim e ao cabo, é de carne e osso.
HOMEM B - (Desconcertado.) Reconheço que gosto bastante de mim, mas receio que não chegue a esse ponto.
HOMEM A - Vamos, decida-se! Vença essa timidez! Diga-nos agora quanto se tem amado!HOMEM B - No meu lugar, o que é que você faria?
HOMEM A - Não duvidaria nem por um instante. Devorar-me-ia.
HOMEM B - Para a frente, então. O que um homem faz, também outro o pode fazer.
Javier Tomeo, Histórias mínimas. Tradução de Maria Dulce Teles de Menezes e Salvato Teles de Menezes.
Comentários
nem ao diabo lembraria.
E se houvesse um homem C
O que é que ele faria?
Eu?...
Deitaria a perna para a sarjeta.
Um que um homem não faz
pode fazer uma mulher
sem tanta treta...