David Lynch costuma lembrar que não vale a pena procurar explicações ou respostas nos seus filmes. Acho que Lynch está certo: é inútil tentar explicar uma obra de arte. O nosso drama é sermos humanos e convivermos mal com aquilo que não conseguimos explicar. Por isso, criámos Deus e os críticos. Ambos oferecem as explicações inexplicáveis de que precisamos. Ambos pertencem ao domínio da fé. O que é curioso em David Lynch: The Art Life é a quantidade excessiva de explicações. Lynch oferece um significado para cada aspecto da sua obra ou, pelo menos, uma proposta de significado. E o mais curioso ainda, tratando-se de Lynch, é a pobreza confrangedora desse “exercício explicativo”. A história que ele constrói, a partir da memória dos seus anos de formação, é uma sequência de lugares-comuns e ideias superficiais. Tudo demasiado óbvio, redondo, sem sombra de profundidade. Na verdade, o filme parece uma colecção de sound bites sobre a arte e a “vida de artista”, montados segundo a lógica
de Cristina Fernandes e Rui Manuel Amaral