Se Derrida compara o poema a um ouriço, João Cabral de Melo Neto designa-o por “pássaro fluido”. O ouriço, bicho que habita em buracos ou entre as sombras, sob ervas e ramos, e que ao mínimo sinal de perigo se enrola numa bola de espinhos, não podia estar mais distante de um pássaro, bicho com asas, veloz, esquivo e capaz de voar. E, no entanto, Derrida e Melo Neto não podiam estar mais próximos de um nome possível para o poema. Uma coisa viva parecida com outra e o seu contrário. Meio pássaro, meio ouriço. Como o mundo.
de Cristina Fernandes e Rui Manuel Amaral
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