Por estas fontes somos informados de que o abutre era o símbolo da maternidade porque se julgava existirem apenas abutres fêmeas e nenhum macho nesta espécie de aves. (...) Mas como se daria então a fecundação dos abutres se só existiam fêmeas? Numa certa passagem de Horapollo é dada uma boa explicação: numa determinada altura do ano estas aves mantêm-se imóveis no ar, abrem a vagina e são fecundadas pelo vento. (...) O erudito e editor e comentador de Horapollo assinala a propósito do já citado texto: «De resto, os Pais da Igreja apoderaram-se avidamente desta lenda sobre os abutres, a fim de refutar, com este argumento retirado da história natural, aqueles que negavam o parto da Virgem; é por isso que, quase todos eles, fazem menção deste assunto.» (...) Se, segundo as melhores fontes da antiguidade, os abutres estavam reduzidos a deixar-se fecundar pelo vento, porque é que algo de semelhante não poderia também acontecer a uma mulher?
Sigmund Freud, Uma recordação de infância de Leonardo da Vinci. Tradução de Maria João Pereira.
Sigmund Freud, Uma recordação de infância de Leonardo da Vinci. Tradução de Maria João Pereira.
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