“Eu não sou o teu negro é uma peça importante para se perceber um pouco melhor o que raio se passa, o que raio ainda se passa, na América destes dias”, escreve Luís Miguel Oliveira, no Público de hoje. Na verdade, creio que é mais do que isso. O filme de Raoul Peck sobre James Baldwin ajuda a perceber o que raio se passa na nossa cabeça desde o princípio dos tempos. O que raio se passa na América, mas também na Europa, na Ásia, em qualquer parte do mundo. O que raio se passa connosco. Que raio de estranho poder é este que o nosso lado mais sombrio e sinistro exerce sobre nós. “O que Baldwin fez”, diz Raoul Peck, “foi colocar um espelho à nossa frente”. Imagino um espelho cheio de pó. Um pó acumulado durante anos, durante séculos. O que Raoul Peck faz, através do pensamento claro e simples de James Baldwin, é retirar esse pó, camada após camada, até conseguirmos ver a nossa imagem reflectida no espelho. E a imagem é horrível. Aquilo somos nós.
de Cristina Fernandes e Rui Manuel Amaral
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Pretos decorativos, fossem numa equipa de futebol ou numa mesa de café...