Imagine-se isto: um homem chamado Joseph Haacke perde a visão de um dia para o outro. O caso apanha-o de surpresa porque nunca sofreu de problemas oftalmológicos. Os médicos informam-no que a cegueira é irreversível e que se há coisas sem explicação esta é uma delas. Calcule-se a sua angústia. Em pouco tempo, mergulha na mais profunda tristeza e solidão. Para minorar a dor, ordena ao filho mais novo que lhe leia um livro todos os dias. Não é coisa que satisfaça o rapaz, pois detesta ler. No entanto, para não contrariar o pai, sujeita-se ao seu capricho. Pelo menos ao pobre homem assim parece. Na verdade, o rapaz não lê coisa nenhuma, mas inventa histórias, pronunciando cuidadosamente cada palavra, sugerindo a posição de cada ponto final e de cada vírgula, como se estivesse a recitar livro atrás de livro. Ao princípio, arrisca a composição de pequenos contos. Depois, lança-se em extensos romances, cada vez mais complexos. O rapaz desempenha a sua missão com todo o tacto, inventando ta
de Cristina Fernandes e Rui Manuel Amaral