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O homem mais feliz do mundo

Imagine-se isto: um homem chamado Joseph Haacke perde a visão de um dia para o outro. O caso apanha-o de surpresa porque nunca sofreu de problemas oftalmológicos. Os médicos informam-no que a cegueira é irreversível e que se há coisas sem explicação esta é uma delas.
Calcule-se a sua angústia. Em pouco tempo, mergulha na mais profunda tristeza e solidão. Para minorar a dor, ordena ao filho mais novo que lhe leia um livro todos os dias. Não é coisa que satisfaça o rapaz, pois detesta ler. No entanto, para não contrariar o pai, sujeita-se ao seu capricho. Pelo menos ao pobre homem assim parece. Na verdade, o rapaz não lê coisa nenhuma, mas inventa histórias, pronunciando cuidadosamente cada palavra, sugerindo a posição de cada ponto final e de cada vírgula, como se estivesse a recitar livro atrás de livro.
Ao princípio, arrisca a composição de pequenos contos. Depois, lança-se em extensos romances, cada vez mais complexos. O rapaz desempenha a sua missão com todo o tacto, inventando também os nomes dos autores e folheando sempre a mesma página de um livro, para tornar a operação mais credível.
O pai de nada suspeita. Comovido, escuta as formidáveis leituras do rapaz. Descobre livros extraordinários e escritores brilhantes, que jamais supôs que existissem. Ouro puro. As histórias inflamam a tal ponto a imaginação do ouvinte que este, por vezes, receia não viver o suficiente para escutar até ao fim cada uma delas.
É inútil acrescentar que, com tudo isto, Joseph Haacke torna-se o homem mais feliz do mundo.
O que aconteceu depois, e às moscas que voavam por ali, não faço ideia.

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