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— Qu’est-ce que c’est que cette histoire ?

Fui acompanhar um amigo à inauguração da exposição dedicada à Jean-Luc Godard. Conhecendo Serralves, as minhas expectativas já eram altas, mas a experiência superou tudo. Parecia uma cena saída dos livros de Thomas Bernhard: perfumes, penachos e vaidade generalizada. Mas nem me vou deter nisso, basta reler o Bernhard para compreender a coreografia cultural. Por isso, em vez de crónica social, resolvi dedicar-me à gastronómica: o jantar em si mesmo.  Foi no andar superior: uma sala ao fundo para as pessoas mais distintas e a da entrada para as restantes e serviço de copa. As mesas estavam atulhadas de velas como se fosse um velório (do cinema?) Os empregados moviam-se concentrados e nervosos (creio que havia alguém a supervisionar) para nos servirem sem serem notados — trabalhadores invisíveis é o objectivo das instituições culturais. Os nomes dos convidados estavam escritos num papelinho para não haver dúvidas do nosso lugar nem tentativas de subverter a ordem suprema (por acaso, quebr

Sindicato dos mortos

As coisas que ficam de fora das homenagens oficiais são sempre as mais interessantes. Por exemplo, gostava, mas gostava mesmo muito, de ouvir alguém a falar das condições de trabalho da Danièle Huillet e do Jean-Marie Straub: as dificuldades para conseguirem as câmaras e as objectivas necessárias, o dinheiro para a película e para o laboratório, as legendas feitas aos poucos mas bem feitas, os meses a preparar a leitura e a respiração, os orçamentos reduzidos mas geridos com extremo cuidado para poderem pagar o devido à equipa, ... — essas questões materiais e proletárias que foram tão marcantes nas suas vidas e nos seus filmes não entram nas salas dos museus. E também as portas que lhes fecharam na cara; talvez agora essas pessoas que, sem dúvida, ocupam lugares importantes em instituições de prestígio internacional, citem os seus nomes com um arzinho etéreo tentando sacar um pouco de prestígio alheio? O Musée d’Orsay não encomendou e depois recusou Cézanne ? Também é preciso contar