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Fellow Prisoners

O facto de os tiranos mundiais se situarem na extraterritorialidade explica a extensão do seu poder de vigilância, mas denota também a sua futura fraqueza. Operam no ciberespaço e moram em condomínios guardados. Não têm nenhum conhecimento da terra que os rodeia. Além disso, rejeitam este conhecimento como superficial, desprovido de profundidade. Para eles, só contam as matérias-primas que extraem. São incapazes de ouvir a terra. Quando pisam o chão, são cegos. No plano local, estão perdidos. Para os companheiros de prisão, é o contrário que é verdade. As celas tem paredes que alcançam o mundo inteiro. Os actos determinantes de uma resistência prolongada terão raízes no que é local, no local próximo e distante. Resistência do interior, ao escutar a terra. A liberdade está lentamente a ser descoberta, não no exterior da prisão, mas nas suas profundezas. Entretanto , de John Berger. Tradução de Júlio Henriques. Antígona. Outubro 2018.

Fogo lento

A admirável poetisa norte-americana Adrienne Rich salientou numa conferência sobre poesia que, «este ano, um relatório da Agência de Estatísticas da Just indica que um em cada 136 habitantes dos Estados Unidos se encontra atrás das grades —muitos em prisões, inculpados». Nessa mesma conferência, citou o poeta grego Yannis Ritsos: Lá fora, a última andorinha demorou-se até mais tarde, suspensa no ar como uma fita preta na manga do Outono, e nada mais ficou. Só as casas queimadas, ardendo ainda em fogo lento. Entretanto , de John Berger. Tradução de Júlio Henriques. Antígona. Outubro 2018.