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Sindicato dos mortos

As coisas que ficam de fora das homenagens oficiais são sempre as mais interessantes. Por exemplo, gostava, mas gostava mesmo muito, de ouvir alguém a falar das condições de trabalho da Danièle Huillet e do Jean-Marie Straub: as dificuldades para conseguirem as câmaras e as objectivas necessárias, o dinheiro para a película e para o laboratório, as legendas feitas aos poucos mas bem feitas, os meses a preparar a leitura e a respiração, os orçamentos reduzidos mas geridos com extremo cuidado para poderem pagar o devido à equipa, ... — essas questões materiais e proletárias que foram tão marcantes nas suas vidas e nos seus filmes não entram nas salas dos museus.

E também as portas que lhes fecharam na cara; talvez agora essas pessoas que, sem dúvida, ocupam lugares importantes em instituições de prestígio internacional, citem os seus nomes com um arzinho etéreo tentando sacar um pouco de prestígio alheio? O Musée d’Orsay não encomendou e depois recusou Cézanne? Também é preciso contar essas infâmias.

Os mortos deviam ter direito à revolta, a lançar maus-olhados a todos esses aproveitadores. Kafka a provocar dores lombares a Max Brod, digamos assim — uma escola de achaques inexplicáveis.

Comentários

jose disse…
Pergunto-me se,modéstia do lugar,Cesariny não teria rendido sacerdotes pós-morte.
Andy Rector disse…
"Il en va de meme pour les Straub si ce que dit Marco M. est vrai: ils auraient declare a Rotterdam qu'ils faisaient des films pour les morts. Le plus grand public, ever." - Daney

I asked Bill Krohn why Daney wrote "ever" in English. He said: "'Ever' because the idea of measuring the audience (le public) is American."