No livro sobre John Ford, Paulino Viota elogiou os textos de Javier Marías sobre o realizador americano. Como estou sempre na disposição de me desviar do caminho traçado, fui procurá-los. O que Marías escreveu sobre o olhar de John Wayne depois de beijar Maureen O’Hara no cemitério é formidável ( El reino de la posibilidad , El País Semanal, 16 de março de 2014) . Eles estão encharcados pela chuva e colados um ao outro e apaixonados, sim; mas há qualquer coisa de grave no olhar de Wayne — como se tivesse encontrado e perdido uma coisa nesse preciso instante —, qualquer coisa que é quase uma tristeza ( uma tristeza doce , diria Walser). Através desse olhar, percebemos o sentido total da palavra paixão . Como nos filmes Passion , de Godard. Ou como em Onde Jaz o teu Sorriso? , quando Danièle (que é uma verdadeira mulher de Ford) diz: — Sicilia! ... se nos apaixonámos e nos apeteceu fazer o filme foi porque, em 1972, quando andávamos por Itália, à procura de lugares para filmar Mois
de Cristina Fernandes e Rui Manuel Amaral