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Coisas visíveis

Fort Apache é um filme magnífico que permite imensas leituras (políticas, musicais, éticas, cinematográficas,…) não só do que é visível, mas também das elipses fundamentais (como lhe chama João Bénard da Costa, com imensa pontaria) que ficam para sempre dentro da nossa cabeça a desinquietar (por exemplo, a enigmática relação entre Thursday e Collington). Das coisas visíveis, destaco uma frase e uma sequência. Referindo-se ao marido que vai nessa manobra funesta planeada pelo tenente-coronel Owen Thursday, Emily Collington diz: Não o vejo. Tudo o que vejo são as bandeiras . Depois do massacre, há um confronto entre o pelotão de John Wayne e os apaches. Wayne aceita a derrota, atira ao chão o coldre com as armas (num plano em que percebemos a admiração de Huillet e Straub) e avança até Cochise. No plano seguinte os índios desaparecem no pó.

Três mulheres

Para o matadouro

1. O encontro de Thursday com Cochise em Fort Apache é brutal — não só pelo massacre consequente, mas principalmente pelas ressonâncias políticas que ainda hoje provoca. Tudo o que o chefe apache reclama ao tenente-coronel é justo e devido. Em oposição, o comportamento dos americanos é infame: Thursday não respeita o acordado, menospreza os conselhos de York e as reivindicações de Cochise e ataca (aliás, já tinha decidido isso na véspera). Como é fácil de prever, a desproporção dos americanos e a colocação táctica dos índios transforma o confronto numa carnificina. 2. O capitão Kirby York foi sempre contra esta estratégia ambiciosa e cega, mas no fim, perante os jornalistas, (depois de um brevíssimo estremecimento?) mente e glorifica o impiedoso tenente-coronel. Straub pergunta: Como pode a história oficial ser o tapete sob o qual escondemos as falhas de uma nação; e a democracia, o tecido com que os bárbaros se vestem de respeitabilidade? Essa última cena é terrivelmente amar...