João Bénard da Costa: (...) Num filme, como em qualquer visão, é sempre preciso olhar segunda vez porque há sempre um fundo sobre um fundo e sobre outro fundo. Diz-se, e tem-se dito muitas vezes, que John Ford é um cineasta evidente; tudo se percebe à primeira vista. Se há filme que desminta totalmente essa teoria — todos a desmentem, mas neste flagrantemente — é Liberty Valance. É preciso ver muitas vezes para chegar a ver. Se há cineasta em que o campo é o mais profundo esse cineasta foi John Ford. Estas palavras do Bénard são tão certeiras. Estou a preparar a aula da próxima terça-feira sobre O homem que matou Liberty Valance e fico espantada com coisas que nunca tinha visto, por exemplo, o corte radical entre o plano da casa de Tom Doniphon a arder e a chegada de Ranson Stoddard a Capitol City. (A economia de meios é assombrosa, como é que Ford consegue dizer tanto com tão pouco? Como é que consegue ir à raiz da realidade? Que cinema é este?) Os 16:44 minutos seguintes da ce...
de Cristina Fernandes e Rui Manuel Amaral