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Mensagens

Emaranhamento

O processo funciona através da exploração do emaranhamento quântico, uma técnica em que duas partículas estão ligadas, independentemente da distância que as separa. Em vez de as partículas viajarem fisicamente para transmitir informação, as partículas emaranhadas trocam informação a grandes distâncias, sem a transportarem fisicamente.

Dos jornais IX

"Começaram a mandar o pessoal sair por fases, a partir das 10 horas, porque estava previsto juntarmo-nos em massa no final do turno. Mandaram embora mais cedo para nos dispersarem. Entretanto um grupo pendurou as batas e, passado um bocado, o porteiro veio recolhê-las. Sentimos que foi uma falta de respeito recolherem assim as batas”, contou Catarina Almeida, de 43 anos, adiantando que já ontem as tinham "tentado demover da ideia" de pendurarem as batas, "para passarem em branco”.

Cheias de graça

Nos seus filmes, Ford não nos fala do oeste real, faz um comentário em segundo grau do mito popular do oeste. Os seus filmes são um mito ao quadrado. Não se trata de converter em mito o Oeste real, mas, partindo de um mito popular, conferir-lhe dignidade estética, por assim dizer; refiná-lo, poli-lo, elevá-lo ao mais alto grau, destilá-lo, o que se quiser; pôr esse mito de andar por casa num pedestal, conseguir  disfrutar dele ao máximo. Talvez a sua atitude não seja muito diferente da dos grandes compositores quando fazem obras a partir do folklore. Ainda para mais tendo em conta que, para Ford, o principal é a música. Para ele, um mito é sobretudo musicalidade. E também arte plástica e poesia, como já assinalamos em relação à «trilogia». Claro que Ford não é um homem da cultura, como esses grandes compositores, mas o que acontece é que quando querem fazer alta cultura com Buffalo Bill, sai um filme de Altman.  Ford é um apaixonado da cultura popular, como têm de ser todos os...

A complicated dialectic

Our first glimpse of Wayne is so sensational and unusual — the camera’s quick track forward as Wayne twirls his rifle — that we may experience today as Ford’s prophetic introduction of The Great Western Star. But there was no reason to suspect in 1939 that Wayne would become a god. Ford is introducing The Ringo Kid , who is already a god, with Monument Valley behind him evoking eternal truth. With many other moviemakers — Howard Hawks, for example — landscapes are bare, transcendentals are missing, along with families, social classes, races, anything that defines people. In contrast, with Ford there is always a complicated dialectic — a drama, conflict, tension — between an individual and the culture, mores, values, traditions, religion, race, sex, class and profession which a person lives in like a fish in water. John Ford — the man and his films, de Tag Gallagher

Not simply a valley, not simply a coach.

Monument Valley, on the Navajo lands in northern Arizona, made a sort of movie debut in Stagecoach and, always photographed with opulence, became a defining element in Ford’s harsh, stony West through six subsequent appearances. But even this first time, the valley is not simply a valley, but a valley melodramatized; and the coach is not simply a coach, but the historic mythos of «the West», like Greek temples.     John Ford — the man and his films, de Tag Gallagher

Bode expiatório

O estrangeiro como bode expiatório. Shiiku [ The Catch ], de Nagisa Ōshima , não é apenas sobre isso, mas é principalmente sobre isso. O estrangeiro, o outro, o diferente, como o culpado de todos os males que assolam a comunidade. A mais repulsiva, estúpida e inútil forma de catarse.

Chaves

Nas últimas semanas, e por razões de trabalho, tenho lido artigos, capítulos e livros sobre Hamlet . Cada estudioso tem uma chave única para a compreensão da peça. Há mais chaves na Academia para desvendar os «segredos» do texto de Shakespeare do que em todos os chaveiros do mundo juntos.

Die letzten Menschen

Se tentarmos explicar os filmes de Pedro Costa a uma lebre morta, apercebemo-nos de algo que não é bem cinema, mas é muito mais importante. Quando Pedro Costa conseguiu livrar-se da idealização da cinefilia, todos os seus filmes passaram a ser construídos sobre ligações poderosas de amizade, amor, e admiração. Se olharmos com atenção, vemos a forma de uma coisa abstracta — não uma ideia de cinema, mas (retratos e) sentimentos reais. Uma ida ao cinema transforma-se assim num confronto com a «presença inteira de alguém» .   São todos enormes.

As relações entre homens e mulheres nos séc. 20/1

O cinema está cheio de imagens de relações dinâmicas entre homens e mulheres. Três exemplos transnacionais: nos filmes de Naruse, andar com alguém significa, antes de mais, andar ao lado de alguém ao longo das ruas e caminhos; Godard transforma o acto de ir para a cama num jogo de palavras e pensamentos (a riqueza da linguagem!); em Hong Sang-soo, os homens e as mulheres passam a maior parte do tempo à mesa, a comer, a beber e a conversar sobre coisas corriqueiras — tudo é graça.

A máscara não cai

Ontem à noite, fomos ver Onibaba , de Kaneto Shindô . No filme, não existem seres maléficos saídos do inferno para assustar os humanos, mas humanos que são maléficos. Claro: a ideia não é original. O que é original é a noção de que os humanos que escolhem pôr a máscara de demónio, transformam-se em demónios. A máscara é a sua única fisionomia. Retirá-la é o mesmo que mutilar o próprio rosto.

Faire le lit

Há um pequeno raccord doméstico entre A mãe e a puta e Adeus à Linguagem .  No filme de Eustache, Jean-Pierre Léaud diz e põe em acção: «os filmes servem para aprender a viver, servem para fazer a cama».  No segmento 2 — a metáfora do filme de Godard, Ivitch e Marcus estão na cama e tentam enfiar o edredão dentro da capa. (Já nem me lembro do que dizem, só guardei os gestos bruscos.) Gostava de ver uma montagem de todas as cenas homem-mulher-cama dos filmes de Godard. Na tal sala de cinema clandestina Junto à estação de comboios (um pequeno balcão para beber chá ou saké, um cão ou dois, o corredor escuro, cadeiras vermelho coçado).

Fulgor de fim de partida

A fisiologia não é um instrumento de análise do pensamento. Às vezes sabemos algum pormenor das funções orgânicas de um ou outro filósofo, uma disfunção, uma doença mais grave, mas esses factos são resguardados e não afectam o trabalho de escrutínio dos seus raciocínios — simplesmente, não é assim que as convenções académicas funcionam.  Porém, quando um pensador faz gala de se afastar das práticas admitidas, tudo é possível. É o que acontece com Emil Cioran: para compreendermos os seus pensamentos devemos, antes de mais, esquecer o jargão da hermenêutica e considerar a fisiologia e as suas palavras clínicas.  Essa é uma das ideias que se apreende logo nas primeiras páginas dos seus Cadernos . Quando começou a escrever estas notas diárias, Cioran tinha 46 anos o que, na altura, correspondia a uma idade já um bocado avançada (em 1957, a esperança de vida em França para os homens era de 65,5 anos). Mas o problema é mais estrutural. Para além dos males do espírito de que sofre de...
Há salas de cinemas de subúrbio vazias como hangares e belas como cais de sonhos. São as que prefiro. Os grandes estabelecimentos das avenidas, com as suas poltronas de veludo vermelho e arquitetura de ópera cómica, onde a talha dourada se derrama sobre as cariátides melosas, são feios e antipáticos. Apesar da obscuridade dissimular esses horrores teatrais, os filmes mais belos perdem aí a selvajaria. Para que serve, então, o luxo desses salões, que só valem pelas trevas?  Pelo contrário, as salas pobres, essas cuja pintura descasca um pouco e dissimulam a lepra sob os belos cartazes de filmes, possuem uma verdadeira atmosfera de emoção e aventuras.  Lembro-me daquela sala em Levallois, já desaparecida, onde vi O Clube dos Valetes de Copas e Fantomas . Era tão grande e tão vazia que os gritos do público ecoavam como num vale. E lá ao fundo, uma orquestra esforçava-se em ruídos discordantes, como a orquestra de um navio a afundar-se, cujos músicos, por uma tradição que nunca...