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A mostrar mensagens com a etiqueta Robert Desnos
Há salas de cinemas de subúrbio vazias como hangares e belas como cais de sonhos. São as que prefiro. Os grandes estabelecimentos das avenidas, com as suas poltronas de veludo vermelho e arquitetura de ópera cómica, onde a talha dourada se derrama sobre as cariátides melosas, são feios e antipáticos. Apesar da obscuridade dissimular esses horrores teatrais, os filmes mais belos perdem aí a selvajaria. Para que serve, então, o luxo desses salões, que só valem pelas trevas?  Pelo contrário, as salas pobres, essas cuja pintura descasca um pouco e dissimulam a lepra sob os belos cartazes de filmes, possuem uma verdadeira atmosfera de emoção e aventuras.  Lembro-me daquela sala em Levallois, já desaparecida, onde vi O Clube dos Valetes de Copas e Fantomas . Era tão grande e tão vazia que os gritos do público ecoavam como num vale. E lá ao fundo, uma orquestra esforçava-se em ruídos discordantes, como a orquestra de um navio a afundar-se, cujos músicos, por uma tradição que nunca...

O mais revolucionário, o mais humano

Adoro e admiro Charlot há doze anos, mas admito que Stroheim me comove de um modo mais directo, de um modo que tem mais a ver com o meu temperamento. É precisamente por ter a coragem de nos mostrar o amor tal como ele é, que Stroheim é o mais revolucionário e o mais humanos dos realizadores. Robert Desnos, Documentos, dezembro 1929, nr. 7.