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Terminar é começar

Uma linha pode ter um princípio e um fim. Um círculo não tem uma coisa nem outra. O círculo é um movimento perpétuo. Como a Terra que gira em torno de si mesma e em torno do Sol. Como a lua que gira em torno da Terra e todas as luas que giram em torno dos planetas. Como todos os planetas que giram em torno de si mesmos e em torno do Sol. Toda a vida é circular. Eis a lei inescapável. Nascemos, vivemos, morremos e da nossa matéria surgirá outra vida, e desta outra ainda.

Ou digamos que o fim precede o princípio,
E que o fim e o princípio estiveram sempre ali
Antes do princípio e depois do fim.
E tudo é sempre agora.
(T. S. Eliot, Quatro Quartetos.)

O mundo gira sobre si mesmo, o mundo novo e o mundo velho, o mundo velho e o mundo novo, e todos repetimos o mesmo movimento. Giramos sobre nós mesmos, numa espécie de instinto de defesa, que inevitavelmente nos afasta do mundo. O mesmo acontece com as sociedades, as regiões, os continentes, a política. O círculo define uma fronteira entre o que está dentro e o que está fora, entre o que é nosso e o que é estranho. E talvez por isso o movimento seja aparente e estejamos todos num contínuo ponto morto. Nem ascensão, nem declínio, nem avanço nem recuo.
O progresso, claro, é uma ficção. E a arte é a nossa maneira de acreditar que é possível romper este círculo. O que vemos em Jerada, a deslumbrante coreografia de Bouchra Ouizguen e da companhia Carte Blanche, claramente inspirada na dança ritual dos dervixes rodopiantes, com a música de Dakka Marrachkia Baba’s Band, é exactamente isto: a belíssima utopia de transformar um círculo vicioso numa festa contagiante: os círculos misturam-se, tocam-se, confundem-se. O movimento é sempre o mesmo, mas sem fronteiras nem muros.





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