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Feliz Aniversário

Em Feliz Aniversário, de Harold Pinter, há um tipo que faz anos e cuja festa de aniversário se transforma numa espécie de paráfrase do Processo, de Kafka. Stanley, assim se chama o aniversariante, acaba preso por dois personagens (Goldberg e McCann) após um estranho interrogatório, que lembra a investigação policial a Josef K. Não é claro o «crime» de que é acusado. Também não é evidente que tipo de «autoridade» o acusa. No limite, Stanley é culpado de existir e, portanto, de fazer anos. O seu aniversário é o crime supremo.

STANLEY - Lamento muito, mas esta noite não estou com disposição para festas.
MCCANN - Não? Que maçada!...
STANLEY - Vou sair e festejar a data tranquilamente.
MCCANN - Não faça isso… (Pausa).
STANLEY - Se não se importasse de me deixar passar...
MCCANN - Mas já está tudo pronto. Os convidados estão a chegar.
STANLEY - Convidados? Quais convidados?
MCCANN - Eu, por exemplo. Tive a honra de receber um convite. (MCCANN começa a assobiar «The Mountains Morne»).
STANLEY - (Afastando-se) Não me parece uma honra por aí além. Vai ser a piela do costume. (STANLEY junta-se a MCCANN no assobio. Nas próximas 5 falas, o assobio continua, assobiando um enquanto o outro fala ou assobiando os dois ao mesmo tempo).
MCCANN - Eu acho que é uma honra.
STANLEY - E eu acho que é um exagero...
MCCANN - Não, não. Eu acho que é realmente uma honra...
STANLEY - E eu acho que é realmente uma estupidez...
MCCANN - Não, não… (Param de assobiar e olham-se. Pausa).
STANLEY - Quem são os outros convidados?
MCCANN - Uma rapariga...
STANLEY - Ah sim? E mais quem?
MCCANN - O meu amigo.
STANLEY - O seu amigo?
MCCANN - Exactamente. Já está tudo pronto.

Comentários

c disse…
The Birthday Party had also been in my mind for a long time. It was sparked off from a very distinct situation in digs when I was on tour. In fact, the other day a friend of mine gave me a letter I wrote to him in nineteen-fifty-something, Christ knows when it was. This is what it says: “I have filthy insane digs, a great bulging scrag of a woman with breasts rolling at her belly, an obscene household, cats, dogs, filth, tea strainers, mess, oh bullocks, talk, chat rubbish shit scratch dung poison, infantility, deficient order in the upper fretwork, fucking roll on.” Now the thing about this is that was The Birthday Party—I was in those digs, and this woman was Meg in the play, and there was a fellow staying there in Eastbourne, on the coast. The whole thing remained with me, and three years later I wrote the play.

https://www.theparisreview.org/interviews/4351/harold-pinter-the-art-of-theater-no-3-harold-pinter