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Concetta

No conto Terra de Exílio, há uma personagem — engenheiro de obras públicas, de Turim — que é lançada, por razões de trabalho, «para o fundo da Itália». Uma terra pequena, no sul, junto ao mar. A sua missão é dirigir a construção de uma estrada. O tempo passa devagar. Arrasta-se. A certa altura, o leitor tropeça nesta passagem:

«Uma vez o carniceiro chamou-me de parte. — Engenheiro, ponha dez liras e fica sócio. Domingo escrevo. A mercadoria chega na quarta-feira, e até sexta-feira, a qualquer hora que tenha vontade, é só bater três pancadas e tem o amor à sua espera.
A lourita saltou do comboio numa tarde de vento e chuva, o carniceiro tapou-a com um guarda-chuva, outro pegou-lhe na mala, desapareceram no beco escuro, por trás da igreja.
Toda a terra sabia, mas na estalagem continuou a falar-se apenas entre os de confiança, gabando-se o carniceiro que desse modo arranjaria mais algum cliente para Concetta. Alimentavam-na a carne e azeitonas, mas tinham-na fechada. Uns entravam, outros saíam. Eu fui lá na segunda tarde. Na loja escura entrevi dois cabritos esventrados, a baloiçar nos ganchos, por cima de uma celha. O carniceiro correu ao meu encontro, abriu-me outra porta carunchosa e, apertando-me a mão, introduziu-me.»

A construção e a escolha das palavras é genial. Está tudo em carne viva, mas sem um bramido. Nunca me canso de ler Cesare Pavese.

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