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Mas quem é esse Filoxeno?

- Essas ideias parecem-me certas - disse Mangogul. - Porque não as torna públicas? (...) Por exemplo, não nos dirá, Sr. Adivinho, o que vira Orcotomo durante o dia quando sonhou a sua hipótese? O que sonhara o padre C... quando se pôs a fabricar o seu órgão das cores? E qual fora o sonho de Cleóbulo, quando compôs a sua tragédia?
- Com um pouco de meditação consegui-lo-ia, senhor - respondeu Bloculocus -, mas reservo esses delicados fenómenos para quando tornar pública a minha tradução de Filoxeno, para a qual suplico a Vossa Alteza que me conceda o privilégio.
- De boa vontade - disse Mangogul. - Mas quem é esse Filoxeno?
- Príncipe - respondeu Bloculocus -, é um autor grego que foi muito entendido em matéria de sonhos.
- Quer dizer que sabe grego?
- Eu, senhor? De modo nenhum.
- Não me disse que estava a traduzir Filoxeno e que este escrevera em grego?
- É verdade, senhor; mas não é preciso entender uma língua para a traduzir, visto que só se traduz para pessoas que não a entendem.
- É espantoso! - exclamou o sultão. - Sr. Bloculocus, continue a traduzir do grego sem o saber; dou-lhe a minha palavra de honra de que não direi nada a ninguém e que nem por isso o honrarei menos singularmente.

Diderot, As Jóias Indiscretas. Tradução de Sampaio Marinho.

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